Leves
considerações sobre a falta da acção municipal
Está de parabéns a freguesia do Colmeal
devido à sua briosa e prestante «União Progressiva». Vai, finalmente, ter uma
estrada de ligação com a estrada de Coimbra a Castelo Branco, vendo assim
realizada a sua velha aspiração.
Grandes e muito apreciáveis têm sido os
benefícios realizados pela «União Progressiva», justificando louvavelmente a
razão do seu título.
Desde que conhecemos o povo do Colmeal, e há
mais de 50 anos, ouvíamos clamar pela estrada e por um chafariz. Teve o Colmeal,
um influente político, pelo menos “eleiçoeiro”,
mas nunca se viu um melhoramento público de valor, porque mais se cuidava do
interesse pessoal.
Felizmente as coisas modificaram-se, o povo
olhou para si e viu quanto valia, se se unisse e ei-lo no bom e criterioso
caminho. Colmeal não quis ficar indiferente, e os seus filhos, numa compreensão
inteligente, fundaram a sua comissão de melhoramentos a que deram o título
feliz e sugestivo de União Progressiva da Freguesia do Colmeal.
Honrado o título, reuniram-se, e de tal modo
têm sabido actuar que grandes e valorosos são já os benefícios públicos
realizados no Colmeal e em diversas povoações da freguesia.
O Colmeal foi dotado com um belo chafariz e
um marco fontanário, com água abundante de boa qualidade e em condições
higiénicas, para só citarmos o melhoramento de maior importância, tão grande e
de tão reconhecida utilidade, que, só por si, honraria a «União Progressiva».
Agora, porém, outro melhoramento de grande
vulto está já em activo andamento; a estrada do Rolão ao Colmeal, em grande
parte já estudada e dotada com uma apreciável verba: 49.618$00.
Claro está que, tal estrada, não será apenas
um ramal de ligação do Colmeal à estrada Nacional 40-2ª. Isso seria muito pouco
e não é esse, decerto, o desejo da freguesia do Colmeal.
Em tempo dizia-nos um patrício que muito se
tem interessado pelos melhoramentos da sua terra, ou melhor, muito tem pugnado
pelos melhoramentos dos pobres povos que a eles têm incontestável direito, que
as Câmaras Municipais estavam descurando um assunto muito importante, do qual,
desprezado como estava sendo, podia resultar a ruína das sedes dos concelhos. É
uma verdade incontestável.
A vila de Góis, depois de ligadas as
freguesias do Cadafaz e Colmeal com a estrada Nacional 40-2ª, fica privada,
comercialmente, da freguesia dos povos das freguesias da serra, os quais só
irão à sede do seu concelho para pagamento de contribuições e impostos. Na
freguesia de Alvares, como muito bem nos dizia um nosso conterrâneo, nascem e
morrem algumas criaturas, embora com idade avançada, sem conhecerem a sede do
seu concelho. No entanto, conhecem perfeitamente Lousã, Pedrógão Grande e
Coimbra, devido a terem com essas vilas e cidade mais fácil meio de
comunicação.
Não devia Góis ter deixado de insistir pela
construção da estrada de ligação directa com as freguesias do Cadafaz e
Colmeal, tendo procurado atrair a si, para tão importante e útil melhoramento,
as colectividades organizadas para melhoramentos dessas freguesias, cuja
importância não era para desprezar.
Quer-nos parecer que, conjugados os esforços
das Comissões de Melhoramentos, com os da Câmara Municipal e o auxílio do
Estado, a estrada de Góis a Cebola, de que tanto se falou mas faltou que a
iniciativa partisse de onde devia partir, teria sido levada até onde fosse
possível, embora para isso fosse necessário dar-lhe uma nova feição e
finalidade.
Se se tivesse pensado a sério na utilidade
da ligação das freguesias à sede do concelho, ter-se-iam reunido todos os
recursos e boas vontades para esse fim, e as freguesias não se teriam disposto
à acção isolada, ficando do mesmo modo sem facilidade de comunicação com a sede
do concelho e da comarca.
O Colmeal, enquanto lhe não for possível
prolongar a sua estrada até ligar a Celavisa, fica do mesmo modo a lutar com
dificuldade para obter um socorro urgente, para transportar um sinistrado ou
doente em estado grave ao hospital mais próximo. Continua a transitar por veredas,
quase intransitáveis, para ir às sedes do concelho e da comarca.
Quando um dia, atentas as dificuldades de
continuar a construção da estrada de Góis ao Colmeal, seguindo a margem do rio,
alvitrámos a construção de uma estrada, partindo da Portela da Cerdeira para as
freguesias do Cadafaz e Colmeal, levantou-se grande alarido, porque queríamos
assim matar a vila de Góis, afastando dela os elementos de vida comercial. A
estrada havia de fazer-se, mas partiria da vila como era natural e de justiça.
Achámos muito bem, e pena, temos, que tão
justa indignação se ficasse apenas numa manifestação platónica de palavreado.
A Liga de Melhoramentos da Freguesia do
Cadafaz viu-se na necessidade de lançar mão do recurso por nós alvitrado e não
tardará a gozar o benefício da sua acertada resolução.
Agora mesmo acabámos de ter a agradável
notícia de estar já feito o estudo até CôrteRedor. E o nosso amigo, sabendo
quanto nos satisfazem tais notícias, acrescenta:
Estamos a pensar no prosseguimento para a
Cabreira e Sandinha, e também numa Casa do Povo com posto médico, um grande
salão e uma divisão privativa com secretária e estante para arquivo de cada um
dos seguintes serviços: Junta, Regedoria, Juízo de Paz, Registo Civil, etc.
Pensámos noutro posto médico com torre de relógio para Cabreira, cujo projecto
desencantei em Coimbra, e no telefone para o Cadafaz que, senão nos enganarem,
deve ser montado este ano.
Muito nos satisfazem tão agradáveis notícias
que nos denunciam vitalidade e acção de um povo, que trabalha e vai até ao
sacrifício para obter um mínimo de comodidades exigidas pelo progresso,
engrandecendo a sua terra e colocando-a a par da civilização social.
Os povos do Colmeal e Cadafaz são dignos da
nossa maior admiração pela forma como estão trabalhando em benefício do bem
comum, agindo conforme lhes é indicado pelos seus inteligentes e dedicadíssimos
orientadores, reconhecendo quanto esses trabalham e a energia que despendem em
benefício das suas terras.
Muitas vezes temos dito e repetimos: Haja
união em torno das boas vontades e obteremos o que desejamos.
ALVES CAETANO
in
A Gazeta das Serras, nº 88, 20 de
Abril de 1939
O Apostolado Cívico pela
Escrita, pág. 464 e 465, Lisboa 2013
1 comentário:
Bem que um empenho e uma união semelhantes a favor do bem comum seriam necessários atualmente! Na referida estrada, os buracos no piso foram tapados na zona do Colmeal pouco antes das últimas eleições autárquicas, mas continuam, passados mais de dois meses, abertos e ameaçadores no troço Colmeal-Ádela.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal
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