10 junho 2013

Comandos voltaram à Serra do Açor e ao Colmeal

A União Progressiva da Freguesia do Colmeal preparou e realizou um fim-de-semana diferente em que nos embrenhámos por aquele país totalmente desconhecido para a maioria dos que nos acompanharam e em que procurámos descobrir os hábitos e as tradições das nossas gentes, e apreciar os lugares escondidos pelos recantos das encostas, com a sua personalidade própria, a sua história e o seu património.

A primeira paragem foi na linda vila da Lousã. Datam do período da dominação romana os mais antigos vestígios que testemunham a presença do homem na região da Lousã. Monumentos funerários e diversos objectos ali encontrados atestam essa presença. Consolidando-se na Idade Média, a Lousã viria a prosperar no século XVIII e seguintes, graças à industrialização. Hoje, a par de um cunho actual, a vila mantém o seu casco antigo preservado e está rodeada de uma serra onde se encontram diversas aldeias encravadas nas encostas da serra com o mesmo nome.




Uma visita guiada ao Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques, que está a funcionar num edifício municipal recuperado e adaptado onde se encontram mais de trezentas peças da sua colecção particular, um espólio etnográfico riquíssimo, fascinou todos os participantes. No piso intermédio onde se encontram os serviços educativos e existe um auditório para conferências foi também possível apreciar a interessante Exposição de Escultura de Ana Marta Pereira.



O castelo da Lousã, também chamado de Arunce ou de Arouce, já fica fora dos limites da vila, a cerca de três km e encontra-se no alto de uma espécie de promontório, rodeado de um vale profundo onde corre a ribeira de S. João.

Como se lhe refere Paulo Rios Peralta (2009) “Lendas e História de um povo tendem a cruzar-se e por vezes a confundir-se... Também a mítica que envolve a fundação da Lousã está envolta em mistérios de alguma forma bucólicos, o que a torna mais apetecível.
É neste contexto que surge o Castelo de Arunce com todo o seu mistério, capaz de nos transportar para tempos avoengos de batalhas e amores quiçá proibidos…
O cenário em que se integra o castelo da Lousã, a península onde se insere e todo o espaço envolvente transporta-nos assim para além da realidade e é envolto neste quadro que a lenda se torna realidade. Conta a história ter sido este castelo mandado construir pelo Rei de Conímbriga chamado Arunce. Este castelo constituiria assim um local de refúgio que, embrenhado na floresta, confundia os ataques inimigos.
É perante uma invasão a Conímbriga, então porto de mar, perpetrado pelo Príncipe Lausus, que o Rei Arunce se vê obrigado a fugir para a atalaia da Lousã, levando consigo a sua filha Peralta e todas as suas riquezas. Contudo, no momento da fuga, a Princesa Peralta e o Príncipe Lausus terão trocado olhares que os deixou enamorados.
O ímpeto de Lausus leva-o a ir em busca da sua amada, percorrendo as serranias da região.
O velho monarca, sabendo das intenções do seu inimigo, resolve ir ao encontro de Lausus, deixando Peralta e as riquezas fechadas no Castelo da Lousã.
Este encontro militar acaba contudo por se tornar fatídico para Arunce e Lausus…
Não havendo ninguém conhecedor do refúgio da Princesa, conta a lenda que ainda hoje, de vez em quando, se ouve o soluçar apaixonado da jovem Peralta, aguardando pelo seu Príncipe. …


  

As Ermidas da Nossa Senhora da Piedade, cuja construção remonta ao século XV, são um importante Santuário Mariano e ficam situadas mesmo em frente ao castelo de Arouce. São três as capelas, sendo a mais antiga e de maior dimensão a Capela de S. João, construída entre os séculos XIII e XIV. Possui um conjunto de esculturas do séc. XV e XVI talhadas em pedra de Ançã: S. João Baptista, S. João Evangelista e S. Paio, e ainda um frontal de altar em azulejos seiscentistas. A completar o conjunto, a Capela da Agonia, edificada no séc. XVIII e a Capela de Nossa Senhora da Piedade, que só descia à vila em ocasião de calamidade pública e aquando da criação da Irmandade de Nossa Senhora. A imagem passou a permanecer durante cerca de um mês na Igreja Matriz, regressando em grandiosa procissão ao seu Santuário. Em 1912 foi construída a quarta Capela: a do Senhor dos Aflitos, situada no morro em frente ao Castelo. Esta pequena capela, em estilo neo-românico, com cantarias, tem um altar revivalista executado pelo escultor conimbricense João Machado.






Num agradável ambiente e com uma extraordinária envolvente todo o grupo se rendeu à gastronomia local que nos privilegiou com produtos regionais e onde a confecção e a apresentação extremamente cuidada mereceram o nosso aplauso. Talvez por isso o almoço parecia não ter fim.




Na Fraga da Pena foi a paragem seguinte. As águas da Barroca das Degraínhas ao encontrarem-se com as da Ribeira da Mata formam uma cascata com algumas dezenas de metros em vários desníveis e com uma vegetação abundante e verdejante que se desenvolveu ao seu redor. A parede rochosa por onde se despenha a água está coberta de musgo, tal como ao longo dos acessos que nos levam até à pequena lagoa onde as pessoas se podem banhar. É um cenário idílico, um autêntico e verdadeiro recanto do paraíso que muitos desconhecem, onde impera uma impressionante serenidade e frescura e que nós fomos encontrar em plena Área Protegida da Serra do Açor.

A Mata da Margaraça ocupa uma parte da vertente norte da serra da Picota. É um espaço privilegiado de encontro com a Natureza. Constitui um raro testemunho da vegetação espontânea da paisagem serrana, considerado como o último reduto da vegetação original do centro do país. Pertença do Instituto da Conservação da Natureza é hoje apenas uma pequena amostra do que em tempos foi, um dos mais opulentos maciços florestais do território. Está classificada como Reserva Natural da Rede Nacional de Áreas Protegidas e Reserva Biogenética do Conselho da Europa.










Piódão é, sob o ponto de vista turístico, um dos principais pontos de referência de todo o concelho de Arganil. Esta típica aldeia em forma de presépio, com casario em xisto e telhados de loisa é propícia a um regresso ao passado bem presente no dia-a-dia dos seus habitantes, poucos, que se espalham pelos socalcos, onde praticam uma agricultura de subsistência. Considerada de interesse nacional, a aldeia do Piódão, localizada em plena serra do Açor, é hoje um local privilegiado para quem procura um turismo rural. Foi possível visitar o Museu situado mesmo ali perto da Igreja Matriz e depois percorrer algumas das ruas estreitas, interessantes não só pela particularidade da sua construção como dos pormenores que encerram e se encontram na passada.




Com o dia a chegar ao fim era imperioso rumarmos ao Sarzedo para mais um jantar gastronómico. Esperava-nos uma divinal chanfana, um prato típico preparado à base de carne de cabra velha a que se junta vinho tinto, aguardente, alecrim, alho, azeite, cebola, sal e salsa, e que pode ainda levar colorau, cravinho, louro, malagueta, pimenta, toucinho de porco, conforme os “saberes antigos” que se vão transmitindo de geração em geração para os “sabores actuais” de cada um de nós.



À noite ainda houve tempo para um passeio pelas ruas quase desertas de Arganil e para um digestivo e dois dedos de conversa na esplanada. Na manhã seguinte o clarim ia fazer-se ouvir cedo para o “toque de alvorada”.


Fotos de A. Domingos Santos


3 comentários:

Anónimo disse...

Assim, sim! Com uma reportagem tão detalhada e bem documentada, dá para mais tarde viajar e não apenas recordar!

Parabéns e bem hajam pela iniciativa de contribuírem para a divulgação e o conhecimento da nossa região e terra, trazendo até nós um grupo de pessoas simpáticas e apreciadoras do diferente e genuíno.

Agradeço o vosso empenho e, sobretudo, a presença dos visitantes. Presença que constituiu um elogio à terra que somos e ao nosso modo de estar e ser, que representou movimento e animação, que contribui para a sustentabilidade da economia local, que foi oportunidade de acolhimento, e nós gostamos de acolher.

Espero que tenham gostado. Num ápice aqui não adjetivável, a freguesia do Colmeal antiga de quase quinhentos anos foi extinta. Mas o Colmeal e os colmealenses persistem, como persistem a cultura e o património simbólico e edificado, a paisagem e nomeadamente as serras agora tingidas de cor, aroma e sabor, as ribeiras e o rio Ceira, as cascatas de inverno e as praias fluviais, a biodiversidade …, enfim, potencialidades de futuro económico e social,através do turismo cultural e de lazer. Voltem sempre. Será sempre um gosto receber-vos.

Também foi um prazer rever a loja-museu do Artur, que foi objecto de grande remodelação. Mais desafogadas no espaço, as suas fantásticas miniaturas ganharam visibilidade e brilho, o mesmo acontecendo com os utensílios que mostra, numa combinação muito interessante de autêntico e memória, criatividade e história. O apreço e a surpresa dos visitantes perante a obra do amigo era evidente. “Conheço o Artur há tantos anos, e nem imaginava!”, dizia uma senhora, encantada.

Lisete de Matos
Açor, Colmeal

A. Santos disse...

Em 1982 a Serra do Açor viu ser classificados 382 ha como Área Protegida onde se destacam a Fraga da Pena e a Mata da Margaraça.
A Fraga da Pena advém de um acidente geomorfológico em que a ribeira de Degrainhos se despenha de uma altura considerável. A Mata da Margaraça já se encontra referenciada desde a segunda metade do séc. XIII, tendo dela saído madeira para o retábulo da Igreja da Sé Nova de Coimbra. É uma das mais notáveis florestas caducifólias existentes em Portugal. Carvalhos, castanheiros, cerejeiras, ulmeiros, azevinhos, freixos, azereiros, loureiros e outras, são algumas das espécies que constituem o seu espaço arbóreo. Também encontramos o medronheiro, aveleiras, adernos e gilbardeira, entre outras.
(Aldeias do Xisto - A descoberta começa aqui - Foge comigo! e ADXTUR - Fevereiro 2013)

P. M. disse...

Admite-se que estejam a ultimar os preparativos para a operação do dia seguinte - a invasão do Colmeal e o ataque à truta do Ceira e ao javali, que se sabe andarem pelo Parque de Merendas das Seladas.
A equipa para o ataque deverá ser comandada pelo António Neves que se preparou afincadamente nos domínios serranos de Monte Redondo e integrada pelos comandos Silveira, Chainho, José Gomes, José Coelho e Amaral. Outros "civis" ouvem com atenção os detalhes pois vão também intervir na operação.
E que operação!!!