Às
oito horas já nevava. Farrapos miúdos e leves de algodão frio desprendiam-se do
céu cinzento, caindo suave sobre a terra e a serra agradecidas. De acordo com a
sabedoria popular, a neve é útil para nutrir o solo e as nascentes, bem como
para destruir as pragas adormecidas.
Mais
tarde, o caudal de brancura engrossou, e tudo ficou envolto num manto esfumado
de frescura esvoaçante.
Quando
alguns aproveitaram para desfrutar da frieza e da macieza daquela raridade
desejada, pareciam figuras de uma tela impressionista.
Enquanto esperava por companhia, o cão deslumbrava-se de olhos fechados, e os passaritos, indiferentes ao frio e à beleza do fenómeno, procuravam alimento. Bem que eles chilreavam cedo, a anunciar a neve que se diz anteciparem quando, no inverno, até os mais ariscos se aproximam das casas.
Mais
por causa da chuva do que do sol, foi neve de pouca dura. Ao longe, a crista da
serra espreitava tímida, a pelidar por mais. Como as pessoas!
Açor, Colmeal, 11 Fev. 2013
3 comentários:
São imagens de uma rara sensibilidade... e o texto, poético, toca-nos fundo e faz-nos sentir testemunhas daquele momento mágico.
Bem-haja, Drª Lisete!
Deonilde Almeida
Texto simples recheado de poesia como se refere no comentário anterior e polvilhado de belos pormenores fotográficos.
Nesses registos capta Lisete de Matos os que consigo resistem na sua aldeia. As pessoas, o fiel amigo e os passaritos, já tão acostumados à sua generosidade diária.
É muito bom ainda termos quem vá registando estes momentos de frio, ternura, resistência e beleza.
Obrigado Lisete pelo seu excelente contributo. Os registos ficam.
Obrigada Lisete pelas imagens de rara beleza que os seus olhos mas também a sua aguda sensibilidade captaram.Afinal, a admirável criação divina não se espelha apenas nas páginas de revista ou nas paisagens longínquas com que sonha o nosso imaginário;está aí na nossa "serra"e, por isso também nos nossos corações.
Parabéns pela qualidade das fotos a que, aliás, já nos habituou!
Enviar um comentário