Entrou recentemente em obras merecidas. Primeiro, apresentava-se esventrada, mostrando nuas as vetustas paredes que a fazem. Assim despidas do reboco que as cobria, eram visíveis as marcas de intervenções anteriores e o xisto mole ou ferrenho que situa essas intervenções em épocas de maior ou menor disponibilidade económica.
O sol penetrava no seu interior, e dele avistava-se uma nesga grande de céu luminoso. Olhando-o, imaginei felizes os actuais obreiros da restauração e os que, no passado, se esforçaram pela renovação do espaço e, sobretudo, da fé que ele acolhe e simboliza. Pensei em Fernando Costa que tanto se interessou pela história e património da igreja da sua terra. Pensei depois em muitas outras pessoas. Vi-as na pia baptismal, que continua lá, a adoptar a fé cristã trazidas pelos pais; a rezar fervorosas aos domingos e dias santos; a prometerem-se ajuda mútua e respeito para sempre; a dizerem (a)Deus. Até me vi a mim própria, envergando um vestido amarelo com pregas de que gostava muito, a olhar assustada para os anjos que encimavam os altares laterais ou a namorar deslumbrada as muitas figurinhas que faziam do Presépio um fascínio. Vi-me, ainda, em outras situações, e lágrimas teimosas afloraram-me aos olhos. Desejei, então, que a igreja se reerga rapidamente, para continuar o seu papel de regaço e factor de espiritualidade e fé para uns, de memória, coesão social e identidade para outros. A igreja e a Igreja!
Dias depois, já se encontrava em franca recuperação. Parecia um milagre, mas era o resultado do labor, do saber e do empenho dos artífices da reconstrução. Diria o poeta: “Não são de pedras estas casas mas de mãos (…). As mãos que vês nas coisas transformadas” (Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967). Uma admiração: a sabedoria, o saber e o saber-fazer!
Lisete de Matos
Açor (Colmeal), 12 de Outubro de 2010.
6 comentários:
Cheguei a ver o projecto de reconstrução da nossa Igreja e confesso que as minhas expectativas estavam para além do que está a ser feito.
Isto é, a iniciativa de reconstrução/restauro da Igreja é louvável mas, na minha opinião, as alterações que estão a ser postas em prática (dimensão total do edifício, escadas, torre, etc) não se enquadram no tipo de construção existente na nossa aldeia. Embora o interior se mantenha fiel ao antigo, o exterior não reflecte o mesmo.
Não querendo ser ofensiva/inconveniente, penso que é o mesmo que construir um edifício de carácter contemporâneo em plena paisagem natural.
Já basta a falta de controle que tem havido, nestes últimos anos, sobre a construção existente.
Apesar desta minha mensagem ser tardia, gostaria que não continuássemos a compactuar com este tipo de procedimentos. Não estando a criticar, de forma alguma, a iniciativa ou as pessoas nela envolvidas, queria apenas apelar à consciência de cada um, no sentido de continuarmos a preservar o nosso património.
Mariana Brás
As obras estão a decorrer, e devia ter havido uma explanação, para alem da maquete apresentada, nada se sabia de como iam ser feita efectivamente a obra.
Dos muitos remendos que constam nas paredes e que agora deveriam ser removidos e devolvidos a sua forma original, foi deitada a baixo uma parede de pedra e esta a ser substituida por uma parede de tijolo e cimento armado, mais uma adulteração que era de todo evitavel, para manter a harmonia do conjunto não tinha sido preferivel voltar a fazer a parede em pedra??, agora temos metade em pedra e metade em tijolo depois de rebocada ninguem nota a diferença mas que se vai sentir no interior disso não haja duvidas, muito mais quente no verão e fria no inverno.
Outra situação que não entendo foi o fosso berto no sitio da nova torre, dinheiro deitado fora, com os processos actuais mecanicos/electricos de fazer funcionar os sinos dispensava-se todo o sistema de pesos e o fosso aberto e a obrigatoriedade de uma pessoa para dar corda ao relogio, com cada vez menos gente nas aldeias qualquer dia quem faz esse serviço, e se fosse mecanizado esta também esse problema resolvido.
E já que estamos a falar das obras acho muita falta de transparencia o modo da adjudicação dos trabalhos de construção civil, e digo muita para não fizer nenhuma, toda essa actuação faz mais lembrar um arranjinho do que uma adjudicação com pés e cabeça e é bom lembrar duas coisas uma é que o dinheiro é de todos os paroquianos e esta a ser gerido por quem nem podia houvir falar no testamento.
Segundo também gostava de ter sido convidado para apresentar uma proposta e essa oportunidade só foi dada a uma empresa a que esta a realiza-las, os outros ficaram a chuchar no dedo, ou melhor ficou tudo em familia, não!! esta tudo em familia (ou melhor dito foram juizes em causa propria) e isso só é bom para alguns.
Já agora uma pergunta: além da Fabrica da Igreja o povo foi convocado para se expremir?.
De que cor vão pintar a igreja? por fora.
Estou inteiramente de acordo com os dois primeiros comentadores. O que se pretendia era uma restauração, o que pressupõe a manutenção da traça existente e não a adulteração da mesma contribuindo para que no final a nossa igreja não fique o que se esperava. É pena!
Quanto ao resto é verdade: desde o início nunca houve informação suficiente, troca de ideias sobre o que se ia efectivamente fazer e muita falta de transparência com todo o processo: Infelizmente acontece com alguma frequência, lamentamos.
Com certeza que a cor terá que ser branca, não acham?
Caros srs., pretendo recolher informação bibliográfica sobre esta igreja e área em que se insere para uma contextualização histórica do local. Será que me poderiam dar algumas luzes acerca de autores locais (ou não) que tenham estudado a igreja/região? Ou de instituições que possa visitar para recolher esse tipo de informações? Bibliotecas, comissão fabriqueira, arquivos...
Muito obrigado!
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