29 março 2010

DOMINGO DE RAMOS NO COLMEAL

. Celebrou-se ontem o Domingo de Ramos com o qual se inicia a Semana Santa. Na liturgia católica, o Domingo de Ramos relembra, primeiro a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, depois a sua paixão e morte para que, na Páscoa passagem próxima, se possa celebrar a ressurreição, e a ela ter acesso.
Tratando-se de dois actos litúrgicos interligados, são proclamados dois evangelhos. No primeiro, lido antes da bênção dos ramos, recorda-se a já referida entrada de Jesus na Sua cidade, montado num burrinho em sinal de humildade, e sendo aclamado pela multidão que lhe atapeta o chão e o saúda, com vestes, folhagens e ramos de árvore, gritando “Rei dos Judeus” e “Hosana, ao filho de David! Bendito seja o que vem em nome do senhor! …” É em memória deste acontecimento que os participantes na celebração se fazem acompanhar de ramos tradicionalmente constituídos por louro, alecrim e oliveira ou por grandes pernadas de loureiro, que alguns enfeitam com laranjas e outros frutos. No segundo evangelho, lido no decurso da missa, assiste-se à narração do julgamento e condenação de Cristo à morte na cruz, exigida precisamente pela mesma multidão que dias antes O tinha aclamado e proclamado rei. Há dois mil anos como hoje, a manipulação, a traição ou o simples adormecimento, quantas vezes de familiares e amigos, a produzirem efeitos atrozes e devastadores! Envolvendo a celebração festa e drama, alegria e tristeza, os paramentos que o celebrante e os seus acólitos usam costumam ser vermelhos na bênção dos ramos, roxos na missa.
O rito é semelhante em muitas paróquias do interior. Feita a bênção dos ramos junto a uma capela afastada ou em outro lugar, segue-se uma procissão até à igreja, onde se celebra a eucaristia como habitualmente.
No Colmeal, a cerimónia do Domingo de Ramos costuma ser muito concorrida, apenas a do Bodo ou da “Festa” a excedendo em afluência, o que poderá ficar a dever-se a uma apropriação algo cultural e profana do evento. As fotografias, que datam de 1997 a 2009, ilustram sobretudo a bênção dos ramos. Esta é feita junto ao Centro de Dia, onde, no lugar que ocupa, existia uma capela dedicada a S. Nicolau. É aí que as pessoas se reúnem, e aproveitam para conviver enquanto aguardam a chegada do celebrante. A exuberância dos grandes ramos, este ano já um pouco diminuída, e os comentários que suscita transformam os seus portadores nos protagonistas da espera.
Chegado o sacerdote ou um leigo em sua substituição, procede-se à leitura do primeiro evangelho e, logo depois, à bênção dos ramos que os fiéis levantam enquanto o celebrante os asperge com água benta.
Segue-se a procissão até à igreja. Como supostamente na vida, a procissão é hoje integrada do ponto de vista do género, e já não formada por duas filas muito alinhadinhas de homens de um lado e mulheres do outro, como há uns anos.
O refrão bisado do cântico que os crentes entoam, sobressaindo as vozes femininas que todos conhecemos (obrigada!), é uma declaração de fé: “Hosana, Tu reinarás/ na cruz Tu nos salvarás!”
A missa é mais ou menos envolvente, como todas, conforme o celebrante. O Cónego André de Almeida Freire, natural da localidade, costuma fazer uma leitura partilhada e dialogada do evangelho segundo S. Lucas, dizendo ele as falas de Jesus, a Catarina as do narrador e o Tiago as dos restantes intervenientes no julgamento e condenação à morte de Jesus. Resulta muito vivo e comovente. Talvez também porque o evangelho segundo S. Lucas é considerado muito sensível (seria médico); e pictórico, acrescento eu.
Na homilia, o/a celebrante costuma lembrar que Jesus se entregou à morte por incompreensível e infinito amor aos homens, e para os salvar e redimir do pecado e da morte pela ressurreição. Um cântico de amor, chamou este ano à paixão e morte de Cristo o Padre André! Lembra, ainda, que crer na morte e ressurreição de Cristo, é crer no mistério central da fé cristã. Um pouco a despropósito, aproveito para agradecer: aos celebrantes, sacerdotes ou não, que fazem o esforço de subir até ao Colmeal, acompanhando o curso do Ceira ou percorrendo a serra, para connosco celebrar o Domingo de Ramos, a Páscoa, a liturgia dominical ou a despedida de algum ente querido; aos grupos de leigos que asseguram a visita Pascal, mantendo viva a tradição do anúncio da Ressurreição, para que os fiéis nela creiam; aos praticantes que animam a missa, cantando ou a ela ajudando; aos que, no âmbito da igreja católica instituição, lutam pela actualização dos princípios e práticas que potenciarão a sua acção a favor das pessoas e da sociedade. Lisete de Matos Açor, Colmeal, 29 de Março de 2010.

1 comentário:

Catarina disse...

Dra. Lisete, obrigada pelas suas palavras e fotografias!!