O número 13 de “O Colmeal” saiu no dia 15 de Fevereiro e na primeira página era feita referência ao inicio do segundo ano do boletim:
“…com o número que hoje inicia o nosso jornal o segundo ano da sua existência. Faz agora um ano. Quantos cálculos e orçamentos, contas, hesitações e até desconfianças no futuro! Mas tudo isto se desfaz perante um momento de decisão: suceda o que suceder – pensámos há um ano – mas vamos experimentar ao menos por certos tempos… os colmealenses aceitaram-no com surpreendente carinho e agradável interesse: os assinantes multiplicaram-se e hoje já são impressos 800 exemplares! E mais ainda: normalmente os periódicos dão a sua faltinha de vez em quando – é lucro… pois nós não faltámos nenhum mês com a nossa folha! E sempre com uma ou mais gravuras… o saldo de facto é pequeno; mas resta-nos a consolação de “O Colmeal” ter feito algum bem, em vários aspectos… Ainda que mais não fizesse; ao menos levou a todas as partes do mundo o nome desta terra que por lá trás os seus filhos na esperança de um dia voltarem à casa onde nasceram. Lançamo-nos agora no segundo ano. Não nos podemos, é claro, meter em grandes despesas. Modestamente vamos singrando. Como o jornal é pequeno e “o que é pequeno tem graça”, toda a gente o quer. Louvado seja Deus!…O que é verdade é que “O Colmeal” venceu já um ano, continua com muita vida, há-de melhorar, aumentar até o seu tamanho ou o número de folhas, ou quem sabe um dia, com grande admiração para muita gente, se torna quinzenal? Tudo é possível, com a união de boas vontades e com a ajuda de Deus, que sem Ele, nada podemos fazer.”
Na mesma página podemos ler uma pequena nota referente ao violento assalto ao paquete “Santa Maria” dando “O Colmeal” graças a Deus por este já se encontrar na posse dos seus legítimos proprietários e pede protecção aos nossos governantes pedindo que rezemos pelos inimigos da nossa Pátria.
Nota:
Não vem escrito n”O Colmeal” mas penso ser bom contar aos amigos leitores que o navio “Santa Maria” era considerado um paquete de luxo. Era um navio a vapor, de casco em aço, construído em 1952. Foi destinado à carreira da América do Sul, para transporte de passageiros e de carga. Paquete de grande prestígio, e o único navio de passageiros português a manter uma ligação regular entre Portugal e os Estados Unidos da América, tornou-se palco da história recente de Portugal em 19 de Janeiro de 1961. Numa das suas viagens à América Central, entram num dos portos de escala, vinte membros da Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, opositores aos regimes ibéricos. Um dia depois, noutra paragem, o comandante deste grupo, o capitão Henrique Galvão, exilado na Venezuela desde 1959, também embarca. O sequestro, que envolve a morte de um tripulante e dois feridos graves, dura cinco dias. Ao 5.º dia, o navio é detectado por um avião norte-americano, comprometendo, assim, o objectivo do plano de sequestro em atingir a costa de África. No dia 2 de Fevereiro, depois de quase duas semanas de sequestro, o paquete “Santa Maria” chega ao Recife, procedendo ao desembarque dos passageiros e tripulantes. Os sequestradores entregam-se no dia seguinte às autoridades brasileiras obtendo asilo político. O assalto do “Santa Maria”, entrou para a Ciência Política, ao introduzir a prática de sequestrar navios e aviões com fins políticos. Recuperado intacto, o “Santa Maria” volta à posse da Companhia Colonial de Navegação, regressando ao Tejo a 16 de Fevereiro. Sete anos depois, é sujeito a uma profunda modernização, passando a fazer cruzeiros à Madeira, Canárias e Caraíbas. Em 1973, ainda na saída da barra de Lisboa, sofre graves avarias. Após o cancelamento dessa viagem, é vendido e desmantelado.
Voltemos ao Colmeal…
Ainda na primeira página, faz-se referência a António Simões Lopes, ilustre colmealense nascido no Colmeal a 3 de Fevereiro de 1934.
“…Inteligente e aplicado, cedo se evidenciou nos bancos da escola primária começando por ser premiado desde a primeira classe. Com dez anos entrou no Liceu Nacional Luís de Camões que frequentou até ao 5º ano. Seus pais matricularam-no posteriormente no Instituto Comercial de Lisboa onde cursou durante quatro anos. Devido às suas boas aplicações foi dispensado do exame de admissão para o Instituto de Ciências Económicas a Financeiras. Quando cumpriu serviço militar, foi como Aspirante a Oficial Miliciano tomar parte nas manobras de Setembro de 1956. No dia 28 desse mesmo mês, na última noite em que se preparava para o regresso das manobras, uma violenta explosão de combustível numa viatura lhe causou graves queimaduras. Tratado nos Hospitais de Abrantes e de Tomar, foi internado no Hospital Militar Principal, onde foi assistido pelo Sr. Dr. Damião Pires que o operou treze vezes e o deu por curado ao fim de um ano e meio. Regressando à Administração Militar de Lisboa, foi chefe da Tesouraria da Arma de Artilharia, tendo sido posteriormente transferido como Alferes para os Serviços de Contabilidade da Força Aérea. Agora, é com vivo regozijo que ao nosso bom amigo, enviamos as nossas felicitações pela sua promoção a Tenente…”
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Nesta edição de “o Colmeal”, são apresentadas contas referentes ao boletim. Existe um saldo de 37$20 e em cofre, 757$50 provenientes do pagamento de assinaturas do corrente ano. Ainda no que se refere a contas, os donativos para aquisição de uma sineta, perfazem a quantia de 1.336$60.
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O Santo deste mês é S. João de Brito que nasceu a 1 de Março de 1647 em Lisboa e era descendente da família dos Reis. Como a sua alma corria grandes perigos na corte, resolveu entrar na Companhia de Jesus renunciando às vãs promessas da vida nobre. Partiu para a Índia onde trabalhou com tal ardor que recebeu o cognome de “Xavier Português”. Abstinha-se de carne, vinho e outros alimentos; caminhava descalço e com os pés a sangrar debaixo de sol ardente; foi injuriado pelos bárbaros e selvagens; assaltado e ferido pelos piratas; preso, chicoteado, raptado e exilado. Como Apóstolo incansável tudo suportava alegremente. A 4 de Fevereiro de 1693, infiéis cortaram-lhe as mãos e os pés, degolando-o de seguida. Provada sobejamente a sua Santidade, foi beatificado por Pio IX e canonizado por Pio XXI.
“Marco do Correio” de Fevereiro de 1961, informa:
Colmeal: Partiu para Lisboa onde vai fixar residência, a Sr.ª Maria Cecília de Almeida acompanhada de sua filha, Maria Augusta de Almeida.
Cabreira: … 14 de Janeiro… casamento do Sr. Victor dos Santos e Maria Alice do Rosário Martins
Cadafaz: Causou-nos satisfação a notícia da ligação do Cadafaz por estrada com o Tarrastal, fazendo os carros já o sue percurso até S. António, início da povoação.
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Na última página de “O Colmeal”, Clarisse B. Sanches conta-nos uma rábula sobre dois avarentos:
“…Um ricaço, avarento, certo dia estando enfermo, já sem o menor alento, ao filho diz neste termo:
- Sinto-me desfalecer, que dizes, será melhor antes que venha a morrer, chamar o Senhor Doutor?
- Consultas? – volve este então que era mesquinho também; - custam hoje um dinheirão!...
- Concordo. Mas se não saro, o enterro, pensa bem, não ficará ainda mais caro?
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Pois é! O que o dinheiro faz a alguns…
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Colmealenses, por agora é tudo, até breve.
Henrique Miguel Mendes
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