Estou a escrever-vos na longa, na maior noite do Solstício de Inverno. Este facto, inerente à rotina do Cosmo, consequente com as leis da Astronomia, teve e tem uma importância grande na vida e imaginário do Homem.
Aquando da sedentarização, os humanos começaram a ter de estruturar as suas vidas tendo em conta os ritmos e ciclos da Natureza. Após as colheitas temporãs seguiam-se as serôdias, e os frutos, e as vindimas. No horizonte próximo desenhava-se a chegada dos frios, das chuvas, das geadas e dos gelos. A Terra, espontaneamente, ansiava e buscava o tempo de pousio.
As folhas caducas cobririam os campos; as pragas de insectos do ciclo do calor seriam debeladas pelas friagens; as herbáceas parasitas definhariam sob a acção das geadas. Todos estes factos devolveriam nutrientes aos campos, chuvas e gelos apaziguariam os solos sequiosos desde a estiagem.
O Homem, homens e mulheres de então, juntava-se a preparar a nova tarefa que aí viria. Seria o afã do limpar dos campos e fazer as semeaduras.
A grande noite do solstício (24 para 25 de Dezembro, segundo o nosso e actual calendário), iniciava o nascimento do novo ciclo de vida da Natureza que se avizinhava. Os dias começariam a “crescer”, aumentando o número de horas de luz solar. Era o “nascer” da esperança, o “nascer” da ambição de boas colheitas, para se alcançar a certeza da fartura tão almejada. Fartura que lhes traria a festa. A festa da Vida. A festa do “nascer duma nova vida” (o tempo da fartura).
A indispensabilidade dos homens primevos se juntarem para colherem benefícios para o grupo foi sendo por eles apreendida e daí, talvez, houvessem começado a celebrar esse espírito. Antecipando assim a festa. A festa da Vida.
Há, no nosso país, ainda resquícios destas festividades. “Adiafa”, assim se chama entre nós o que resta dessa antiga festividade. Não terá já a pureza inicial, mas também o Homem, ao tornar mais complexa a sua interacção social - as crenças, as filosofias, os sistemas e métodos, as religiões -, se foi afastando da pureza dos ciclos da Natureza. Há quem defenda que esta festividade dos primeiros homens estará na origem daquela que hoje se celebra e a que se chama de Natal. Não sei se assim é de facto, nem é essa discussão que aqui me traz.
Apenas convoco este historial, nesta noite, para recuperar o espírito de “pureza” desses primeiros tempos, em que o Homem dependia do conjunto de esforços de todos os homens e mulheres. Da comunhão e assumpção do querer de todos, sem reservas, sem limites, para o bem de todos.
Algumas destas palavras, que respiguei de alguns estudiosos da matéria, talvez não sejam completamente destituídas de sentido na memória de muitos Colmealenses. A verdade dos povos rurais é, normalmente, transversal.
Aqui chegado quero, nesta noite, desejar a todos, com os homens e mulheres dos Corpos Directivos da UPFC à proa, uma muito boa “Adiafa da Vida”.
Que o novo ciclo da Natureza que desta noite “nasce” (e Natal quer dizer nascer), e a que chamamos hoje de 2008, e se avizinha, traga, a todos, as maiores venturas e sucessos. No plano pessoal e, também, no do colectivo dos Colmealenses.
Um terno abraço para todos. Até um dia destes.
Helder dos Santos Pinheiro
(Solstício de Inverno - “Noite de Natal de 2007”)
1 comentário:
Obrigado pelo belo texto com que nos obsequiou e que para todos nós foi uma bela prenda de Natal.
Em meu nome pessoal e dos nossos colegas dirigentes agradecemos e retribuimos os votos formulados.
Tal como refere, que 2008 seja para todos, um ano pleno de felicidade, venturas e sucessos.
OBRIGADO.
António Santos
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