08 março 2021

BELEZAS E RIQUEZAS DA SERRA. NATAL E PRIMAVERA, NO COLMEAL

Teve de ser. Ontem fui ao Colmeal. E, já que estava lá e não se avistavam outras pessoas, decidi fazer a minha caminhada do dia, descendo até ao rio. Pois não é que tive a surpresa de me encontrar, ao mesmo tempo, a celebrar o Natal e a primavera? Sinal dos tempos, talvez, mas bem gratificante!


O Natal, de que este ano muitos se privaram em benefício dos outros, está consubstanciado no presépio que permanece no recinto da igreja. Sem ser o presépio deslumbrante que fazia as delícias da minha infância, é um exemplar muito sóbrio e encantador, formado pelas figuras principais dispostas em dois grupos: um primeiro com o Menino Jesus, os pais e os animais que o ajudaram a aquecer; um segundo com os reis magos e uns cordeirinhos. Muito significativo, acrescenta simbologia ao símbolo que é. Em primeiro lugar, por se encontrar graciosamente abrigado entre os potes do azeite e do mel, desse modo sugerindo a oferta ao Menino desses produtos do nosso labor, em substituição do ouro, do incenso e da mirra com que os reis magos O presentearam. Depois, por continuar ali, no exterior, tanto tempo, frio e sofrimento passados, quando nós temos o dever de ficar no interior, em casa.



Como sabemos, o presépio é uma representação do nascimento de Jesus Cristo, tradição que remonta a S. Francisco de Assis, nos finais do século XIII. Quando ainda é instalado, uma vez que tem vindo a perder terreno para outros valores e simbologias, é costume manter-se durante a quadra natalícia, que vai até 6 de janeiro, dia em que os reis magos terão chegado a Belém, guiados pela estrela que os iluminava.

No pressuposto de que a permanência do presépio é uma consequência da crise sanitária e social que vivemos, não consegui deixar de pensar: será que os reis magos se atrasaram, eles próprios ou a estrela também confinados e impedidos de circular? Será que se pretende devolver-nos o Natal, eliminando o sofrimento e as perdas humanas que se lhe seguiram? Seja como for, o facto é que o presépio persiste, a celebrar, para os crentes, o nascimento do Salvador e a convocar o renascimento de que carecemos, quando a páscoa ressurreição já está próxima. E a tornar a família presente, não obstante o distanciamento físico que lhe devemos.

A primavera é a primavera. Entre outras manifestações, podia ver-se e sentir-se: no sobreiro gigantesco e vetusto que resiste, protetor; nas árvores de fruto que começam a vicejar e a desabrochar promissoras; nas florinhas silvestres que brotam por toda a parte tímidas e humildes; no Ceira que corre sereno e livre, a caminho do Mondego e do oceano … A serpentear vales recônditos e a vencer, corajoso, obstáculos impensáveis!











Ao subir do rio, desciam uma senhora e uma menina, mas a alameda Fernando Costa permitiu que nos cruzássemos em segurança. A propósito, há mais arruamentos que foram calcetados, mostrando-se muito cuidados.

Votos de muita saúde para todos.

Lisete de Matos

Açor, Colmeal, 6 de março de 2021

7 comentários:

Catarina disse...

Dra. Lisete, muito grata por ler as suas palavras e por ver as fotos da nossa aldeia.
Um bem haja.
Beijinhos

Catarina

Maria C. Costa disse...

gostei muito do texto e as fotografias são lindíssimas. Obrigada

António Santos disse...

Texto tão simples. "Natal é quando o homem quiser". Um ditado antigo, sempre actual. Natal e Primavera. Uma conjugação bem necessária.
Obrigado.

Maria Lucília disse...

Dr.ª. Lisete

Não tenho palavras para exprimir a sua sensibilidade e a beleza das fotos que sempre nos oferece e que tanto nos deliciam. Também gostei imenso do texto.
Parabéns e muito obrigada mais uma vez.

Beijinhos

Anónimo disse...

Lisete, é tão bom "regressar" ao Colmeal através das suas palavras e das suas fotografias! Obrigado!

Rui Ferreira

Anónimo disse...

Simpatia de todos! Dos olhos, do coração, da saudade ... Bem hajam. Tudo de bom.
Abraço.
Lisete de Matos

Anónimo disse...

As imagens que partilha connosco e os textos que as emolduram, Dra. Lisete, não sei se me acalmam ou se me aumentam a saudade desses "caminhos velhos"... bem-haja!
Deonilde Almeida