Embora não sendo entendida em coisa nenhuma,
Obedecendo apenas ao ensinamento do decorrer dos anos,
Com cadências e desenganos,
Sem consentimento, vou dar a minha opinião,
Podem até julgar que é atrevimento.
Vou falar de alguns rostos que encontro no meu caminho,
E dizer que em cada um vejo amargura, sombra e azedume,
Igualmente medo e tristeza.
Principalmente as pessoas que, como eu, são de idade avançada.
Mais sentimos o peso da solidão,
Muitos de nós andamos em confusão,
Acho mesmo à beirinha da depressão.
Certamente que é devido às restrições relacionadas com a covid.
E não só!...
Seja como for, a verdade é que vivemos em desconforto colectivo,
Amargamente sentido.
Os nossos rostos tinham expressões bem mais bonitas.
Quando estávamos em equilíbrio, demonstrávamos alguma felicidade,
Mesmo sendo na quarta idade.
Deixávamos transparecer a nossa alma, onde se podia ver um lago azul,
De água límpida que brilhava com o Sol.
Faz-nos muita falta ver correr para nós braços abertos,
A dar um forte e caloroso abraço,
Animando-nos sem cansaço.
E segredando-nos ao ouvido palavras de conforto e amizade,
Demonstrando-nos que estão connosco, disponíveis para ajudar
E compreender sem julgar.
Mostrando-nos, mesmo, a essência de um bom caracter
Disposto a alumiar o nosso caminho, quando há nuvens no céu
Ou noites de breu.
Ajudando, tanto quanto possível, a encontrar maneira
De ainda gostarmos de nós próprios, esquecendo as decadências,
Vivendo bem com as falências.
Seria tão bom se, em vez de sombras, pudéssemos sentir e ver
Este nosso mundo vestido de cores alegres e brilhantes,
Como estrelas no céu composto também com aroma campestre,
Em vez de perfume agreste.
Acredito ainda que todos vamos sorrir, para nos sentirmos mais leves
E, quase sem dar conta, seremos mais felizes.
Para alegria de quantos se cruzarem no nosso caminho.
A vida em sociedade seria bem mais grata, transmitindo simpatia
E sabendo ouvir os outros, porque, afinal, todos temos algo a dizer
Sobre o sentimento e dor que estamos a viver.
Para um mundo mais alegre e mais fácil de entender
Vamos todos fazer força, para banir os intratáveis donos da verdade,
Os arrogantes, os preconceituosos, assim como os prepotentes.
Vamos ter esperança de encontrar, aqui ou noutro lugar,
A paz que nos encha o coração, sem nunca mais nos faltar.
Ainda vivo a sonhar,
Que um dia vou encontrar,
Quem sempre me vá dar,
Doces favos de mel,
E abraços a granel.
Josefina Almeida
Outubro de 2020
in O Varzeense nº 777 – 30Novembro2020
3 comentários:
Como eu gostaria de saber expressar assim os rostos e sentimentos próprios e dos outros! Recebe querida poeta e irmã, ainda que a distância, os meus abraços muito ternos e apertados.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal.
"Faz-nos muita falta ver correr para nós braços abertos"...
Como eu a entendo!
Também nos faz falta esta sensibilidade apurada da "quarta idade", como refere, que consegue transmitir estados de alma, de modo tão genuíno.
Bem-haja!
Deonilde Almeida
Lindo poema
que falta nos faz tudo o que ele nos lembra
Obrigada
Maria Clara
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