
Enfim, um livro com um pé
lá e outro cá, em vai e vem entre
a cidade e a terra, exatamente como
os protagonistas do êxodo e, hoje, alguns dos seus descendentes.
Do ponto de vista do estilo, Adriano Pacheco continua a usar
a ficção e uma escrita pródiga em reflexões e expressões locais, para destacar valores
e práticas, ao mesmo tempo que faz “um registo apaixonado muito próximo da
verdade dos factos” (p. 9). A partir de um título que pode ser visto como metáfora:
carvoeiro na aldeia, taxista e empresário de transportes na cidade, de permeio,
os fogareiros a carvão ou petróleo, em que os recém-chegados cozinhavam, nesses
longínquos meados do século passado.
Pois, é que os “fogareiros” são os taxistas! Estes
profissionais terão ganho a alcunha depreciativa, entre outras explicações, em
virtude das qualidades pirotécnicas dos carros a gasogénio, no pós-guerra, da
pressa com que andam ou, ainda, da fraca cordialidade de alguns (pp. 73-74, 122-126).
Parece que o epiteto também se aplicava à generalidade dos aselhas em matéria
de condução!
Não me canso de enaltecer a capacidade de escrita de Adriano
Pacheco. Obrigada por utilizá-la para falar de realidades e grupos sociais que continuam
pouco valorizados, enquanto sujeitos e agentes da história.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 21 dezembro de 2015.
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