16 outubro 2015

Se não foram mais longe foi porque não puderam! (IV)


«Compara-se uma juventude a outra»
«Alguma vez os jovens ou adolescentes de determinada geração foram semelhantes nas suas normas de pensar e agir, aos das décadas anteriores ou dos séculos passados?» (in «Correio da Serra», 15/9/72)

A morosa integração da mulher e da gente moça, de ambos os sexos, no Regionalismo, tem de se interpretar e acompanhar em função dos usos, costumes e tradições da generalidade do país.
A mulher, segundo a óptica discriminatória, «não precisa» de estudar. A sua finalidade era trabalhar na agricultura, efectuar a lida de casa e gerar filhos.

A mulher, apesar do seu movimento de emancipação ter acordado em fins do século XIX, continua a ser a «escrava», tal como no passado. No sentido da emancipação da mulher, algo se tem conseguido, embora muito haja ainda a fazer no campo da promoção feminina. É certo que há mulheres em altos cargos e a dirigir, inclusive, povos. Elas são, no entanto, e ainda, uma minoria que nem sequer é significativa.
Por sua vez os filhos, possíveis quadros regionalistas do futuro, «eram» para obedecer e nada mais. Rapazes sem barba no Regionalismo, isso nunca!

Em todas e quaisquer «manifestações de actividade», que iam desde representações colectivas junto dos poderes públicos, reuniões para discussão ou aprovação de problemas inerentes à aldeia, convívios, confraternizações e Assembleias Gerais, os presentes eram só homens e na maioria dos casos com mais de 25 anos, ou seja, após o serviço militar.
A integração da mulher e da gente moça, no Regionalismo, foi um processo lento, extraordinariamente moroso, que esteve aliado paralelamente ao processo de reconversão de mentalidades.

Há uns 15 anos só havia uma senhora a exercer cargo regionalista. Não recordamos se em Direcção, Conselho Fiscal ou Assembleia Geral. Rapazes, possíveis ou prováveis dirigentes do futuro, já encontrávamos mais, mas, mesmo assim, muito poucos.
As mentalidades tinham evoluído, é certo, mas não se criavam condições para a integração plena dos rapazes e das raparigas nas agremiações regionalistas. Hoje, neste aspecto, o panorama é diferente, para melhor. E neste sentido teve influência decisiva o fomento e desenvolvimento de «Comissões de Juventude», agregadas às agremiações. Neste sentido a UPFC foi uma das inovadoras.
Embora controversas, as «Comissões de Juventude», como controverso tudo quanto é novo e diferente, têm desenvolvido actividade positiva e, como «alfobre», fornecido novos valores, de ambos os sexos, ao Regionalismo.
Esperamos que a tradição recente das «Comissões de Juventude» tenha continuidade e se apresentem moralmente cada vez mais robustas.

No Regionalismo colmealense existiram sempre certas tradições. Umas recentes e inovadoras, como a focada anteriormente, outras antigas. Umas positivas, outras negativas. Umas perderam-se, outras mantêm-se. Uma das tradições negativas que se mantém é o afirmar-se com frequência, de ânimo leve, sem qualquer fundamento, por desconhecimento de um passado longínquo ou recente: a União nunca fez nada pela freguesia. À falta de melhor argumentação (ela existe) caberia desde logo, como é lógico, interrogar-se: - E o que fez a freguesia pela União Progressiva da Freguesia do Colmeal?

*

Por insistência da UPFC, os CTT, em 8 de Junho de 1932, ampliaram o serviço de «Valores Declarados» ao Colmeal. Este benefício tem hoje pouca utilização mas, nos anos trinta, foi um serviço inestimável para toda a freguesia. Por esse sistema, os que se encontravam ausentes enviavam à família os vinte ou cinquenta escudos, de vez em quando. Era um serviço «porta a porta». O Vale Postal tinha que ser, tal como hoje, levantado em Góis. Para ir a Góis eram 30 quilómetros, era um dia.
Também em Julho de 1932 foi enviada a primeira exposição ao Director dos Correios do Distrito de Coimbra, solicitando a «criação de encomendas postais na nossa freguesia».

Antes do fim desse mesmo ano (1932) verificou-se a execução do primeiro empreendimento material da União: construção da ponte sobre a ribeira do Soito. A execução foi na íntegra custeada pela UPFC. Tal ponte ainda existe, embora com o tabuleiro alargado.

Em Julho de 1935, o Regionalismo colmealense organiza a primeira excursão à Serra. Nessa excursão iam dois reputados jornalistas da Imprensa Arganilense: o «Ti» Luís Ferreira e Joaquim Dias Pereira. Eles, melhor que ninguém, descreveram em várias crónicas publicadas em «A Comarca de Arganil» e no «Jornal de Arganil» o atraso existente, a odisseia, a aventura, o calvário para do Rolão chegar ao Colmeal e para depois sair da nossa sede de freguesia para a Carvalha da Sarnoa (Celavisa), onde a camioneta aguardava os excursionistas para o regresso.
Este serviço desinteressado e outros futuros da Imprensa Regional e seus colaboradores teve influência decisiva no alicerçamento e futuro da União Progressiva da Freguesia do Colmeal.

Em 1937 construiu-se e foi inaugurado o abastecimento de água existente no Largo do Colmeal, em substituição do «Chafurdo». Em princípios de 1938 a água foi conduzida do Largo até à «Cruz-da-Rua». O primitivo encontrava-se no mesmo local do actual.
Estes melhoramentos, executados através de comparticipações públicas, custaram, só à parte da União, cerca de 15 contos. Para a época era muita «massa».
Nesse período procedeu-se, igualmente, à captação de água e foi executado um chafariz no Sobral e em 1939 projectada a captação da água em Aldeia Velha.

No entanto, desde a fundação da União, a ideia dominante dos seus dirigentes era dotar a freguesia com uma estrada. A estrada seria, segundo uns, «o progresso dos progressos», para outros e para a freguesia um caso de «vida ou morte».
Sem nunca, através de todas as épocas, os dirigentes da UPFC colocarem de parte a estrada para Góis, que os poderes públicos não construíam, tudo levando a supôr com a finalidade de afastar os povos dos centros de decisão, os colmealenses nunca desertaram da efectivação dessa via; inclusive por ela batalharam quando a legislação não permitia a abertura de estradas das povoações «servidas ou com menos de 100 habitantes». Tiveram, isso sim, em face dos imponderáveis, que tentar outra saída.

Quanto à estrada inicialmente do Colmeal para a Carvalha da Sarnoa, por Celavisa, acabaram os representantes das duas freguesias por não chegarem a acordo após várias reuniões conjuntas, iniciadas em 1935. O mesmo fracasso se verificou, décadas mais tarde, entre cadafazenses e colmealenses, no respeitante à ligação para Góis.
Finalmente a UPFC mandou elaborar projecto parcelar da Estrada do Rolão. Em Janeiro de 1938, provavelmente dia 4, iniciou-se a marcação de terreno e trabalhos preliminares para a abertura desta via de comunicação.

in Boletim “O Colmeal”, Nº 167 – Novembro de 1980
Arquivos da União

1 comentário:

Anónimo disse...

Considero muito interessante (e importante!) esta divulgação. Este conhecimento permite-nos recordar as imensas dificuldades com que se vivia no Colmeal (já em pleno séc.XX) e enaltecer o engenho daqueles que, aventurando-se noutros horizontes e tendo conseguido uma vida melhor, generosamente, dedicaram os seus tempos de descanso à luta pela melhoria das condições de vida dos seus conterrâneos.
A União tem uma história muito longa e rica (tenho vindo agora a conhecê-la), que merece e deve ser do conhecimento de todos os colmealenses, porque é inspiradora para todos nós.

Deonilde Almeida (Colmeal)