Depois de uma curta ausência, a serra acolheu-me vestida de
verde acinzentado, por vezes, de castanho amarelado. Em silêncio. Quilómetros e
quilómetros de estrada, subidas e descidas, curvas e contracurvas, e ninguém!
Vivalma: caminhante intrépido, bicho bravio, viatura apressada! Em sinal de
ausência ou simplesmente por ser sábado, sétimo dia, dia de descanso?
Finalmente com as bermas limpas da vegetação que a
estreitava, a estrada Colmeal Ádela, de tão larga, até parece uma autoestrada!
Uma boa surpresa e um motivo de contentamento, a que acresce a limpeza de lamas
que estava a ser feita esta manhã, aparentemente para efeitos da há muito
necessária requalificação do piso.
No Colmeal, o rio Ceira corria pujante e lesto, a cantarolar
beleza e potencialidades.
Duas ou três pessoas conversavam no largo e outras tantas
jogavam às cartas no café. Enquanto me atendia, a D. Maria queixava-se do
tempo, e eu concordava com ela, depois do dilúvio inusitado de há dias. Não
havia os ovos de que eu precisava, mas sobre o balcão tentava-me um dos
deliciosos bolos da Anabela. Resisti-lhe, mas bem que me arrependo!
No Açor, terra de gente laboriosa, o Amílcar e o Arménio
apanhavam azeitona. Em Ádela, um gato preto luzidio espreitava da janela da
antiga casa dos meus tios António e Felismina. De visita aos meus primos Maria
Amélia, Zé e Manel, fiquei a saber que também ali havia quem andasse à
azeitona. Há pouca este ano, mas mandam a tradição e o espírito de poupança que
não se desperdice! Grão a grão enche a
galinha o sarrão.
Já perto de casa, os castanheiros apresentavam-se despidos
das folhas, dos ouriços e das castanhas que atapetam o chão, os ervideiros
carregadinhos de medronhos vermelhos e flores esbranquiçadas. Um fascínio!
Outro, os dióspiros quase maduros.
Por toda a parte, há flores de verão tardias que teimam em
resistir, como as pessoas, e flores de inverno precoces que o calor prolongado
espevitou. Entre outras, no primeiro caso estão as aboboras ou os
amores-perfeitos silvestres que me ofereceram em Aldeia Velha, no segundo, as
cameleiras e os azevinhos.
Sempre atrevidos e sedutores, os “tertulhos” abundam.
Realmente, uma tentação!
Na noite que cedo ofusca a serra neste tempo, ainda me
esperava pachorrenta uma salamandra pintada do espanto de me rever.
Natureza, simplicidade e diversidade, produtos, aromas e
sabores, recursos, belezas e riquezas da serra.
Açor, 24 de Novembro de 2014
Lisete de Matos
5 comentários:
Muito obrigada Lisete por partilhares connosco estas belezas naturais da nossa serra.
Parabéns.
Uma boa e linda, composição de imagens.
Lemos
Imagens lindas - quase lhes sentimos o cheiro a ervas molhadas...
Muito obrigada, Lisete!
Deonilde Almeida
Sensibilidade, simplicidade, ternura e bom gosto.
Parabéns pelas imagens, pelas pelas palavras, e pela partilha que a todos enriquece.
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