COLMEAL
- Alminhas, situadas no
Torgal, na berma da estrada que liga
Colmeal a Góis, por baixo da capela do Senhor da Amargura. Foram construídas em
1984 ou 1985, por José Nunes, natural da Cabreira e residente em Góis, em
cumprimento de promessa de sua esposa Ana Maria Alves Nunes, natural de
Colmeal. São em forma de oratório, com a estrutura e o telhado em xisto. Este é
sustentado por uns tubos na vertical, que também aparecem nas alminhas da Foz da
Cova, Malhada e Soito.
O painel em azulejo
representa a imagem de Nossa Senhora de Fátima com os pastorinhos em oração e
ovelhas a pastarem.
Representando devoção e
agradecimento, trata-se de umas alminhas na forma e na apresentação, mas que
não radicam no culto dos mortos. “Tinha dezassete anos, quando fiz a promessa,
nessa altura não pensava na morte.” (Ana Maria).
- No Colmeal, existiram
outras alminhas. Por exemplo na Eira, onde foram demolidas com a construção da
Casa Paroquial. Seriam um oratório em xisto com um pequeno nicho e um painel em
madeira que tinha as almas do Purgatório. No caminho para o Carvalhal, logo
depois da travessia do rio, num sítio chamado Riqueijo, existiram outras em
forma de capela ou alpendre, que terão desaparecido com um incêndio. Também à
Ponte, existiram umas que eram uma cruz em ferro espetada na rocha. Lembravam um
rapaz do Carvalhal que veio ao moinho, e que se afogou ao tomar banho no rio
Ceira, enquanto esperava que o milho moesse.
FOZ
DA COVA
Alminhas em forma de
oratório, situadas na estrada para a Malhada, na cortada para o lugar, num
sítio chamado Entrecaminhos ou Barroca das Almas. Foram mandadas
construir por José Baeta, da Malhada, haverá uns catorze anos, próximo do sítio onde terão existido umas outras, mandadas construir por José Maria,
da Foz da Cova, haverá uns setenta anos. Numa outra versão, terão sido por
familiares, quando José Maria faleceu.
O painel em azulejo
representa o Anjo da Guarda, a proteger duas crianças e um cordeirinho. A
menina leva um ramo de flores, o rapaz não consegui identificar o que leva na
mão.
MALHADA
- Alminhas em forma de
oratório, situadas no largo da terra, junto ao lavadouro e outros edifícios públicos.
Foram mandadas construir por Celeste dos Santos haverá vinte e cinco ou trinta
anos, em cumprimento de promessa de um familiar que faleceu sem a ter cumprido.
“Lá foi algures, e aconselharam-na a fazê-las …” (Aurora).
O painel em azulejo mostra
Cristo na cruz, com as alminhas nas chamas, em baixo. O desenho é muito
simples, parecendo Cristo apenas um esboço. Apresenta a particularidade de ser quadrado
e não retangular como a maioria, e de ser em azul, e não nas tradicionais cores
vivas. É também o único painel, no conjunto de as alminhas que visitámos, em
que o apelo à oração aparece por extenso: “Pai Nosso, Avé Maria”. Apelo esse
que é raro, nas alminhas do Colmeal.
Estas alminhas, foram arranjadas
haverá uns quatro anos, por João Casimiro Vicente, que, para tanto, recolhe as
esmolas. Caso se verifiquem excedentes, entrega-os aos mordomos dos santos da
localidade.
- Alminhas, ao lado das
anteriores, sendo uma espécie de capelinha com as paredes em vidro, a proteger
uma imagem tridimensional de Nossa Senhora de Fátima. Foram mandadas construir,
em 2011, por António Martins, natural da Malhada e residente no Colmeal, em
cumprimento de uma vontade da sua esposa Maria Antónia Cerdeira, já falecida.
Também diferentes na
intenção com que foram construídas, mas alminhas na apresentação e na forma,
incluem-se neste levantamento por fazerem parte do mesmo espírito de devoção e
fé.
QUINTA
DE BELIDE
Alminhas situadas na
Assentada de Belide, à beira da estrada que liga o Rolão a Fajão.
São as alminhas em
forma de capela ou alpendre maiores que encontrámos na freguesia, com os seus
bancos ao comprido, a convidarem à oração e ao repouso, agora perturbado pelo
ruído pastoso das eólicas, que varrem o céu e o sossego da serra. Conforme
inscrição na própria estrutura, foram construídas em cumprimento de promessa,
em 1959, por Bernardo Gomes Monteiro, conhecido por Bernardo Cebola, por ser de
uma terra da Pampilhosa da Serra com esse nome. Negociava em carvão.
O painel em azulejo
representa Nossa Senhora do Carmo, desta vez com o menino do seu lado direito e
também ele coroado. A presença solícita dos anjos a intercederem pelas almas
envoltas em chamas persiste.
Para além do painel das
almas, existe na parede direita do interior da capela uma imagem do Santo do
nome do construtor, S. Bernardo, também em tons de azul. No canto inferior esquerdo
desta imagem pode ver-se a inscrição “OUTEIRO ÁGUEDA” e, no canto inferior
direito, “GOMES PORTO. PORTO – COIMBRA”.
São as únicas alminhas
da freguesia com nome escrito nas próprias: “Alminhas de Belide”.
RIBEIRA
DO SAIÃO
Alminhas situadas na Ribeira do Saião, na berma da estrada
Colmeal-Góis, pouco antes da Candosa. Foram mandadas construir em cumprimento
de promessa pelas melhoras do pai, por Álvaro Miranda, da Candosa, em terreno
da família. São umas alminhas de capela, com os respetivos bancos ao comprido de
ambos os lados. O painel é em azulejo, com a imagem de Nossa Senhora do Carmo, a
azul e com pormenores diferentes das alminhas do Carvalhal e Belide. Apresentam
a particularidade das duas cruzes desenhadas na estrutura, por cima do painel.
SOBRAL
- As alminhas, situavam-se
no caminho Colmeal-Sobral, no Caratão da Fonte das Almas. Eram só uma cruz em
madeira, espetada na ponta de uma parede, em memória de um homem que terá ali
falecido. Diz o meu pai que já lá estavam quando ele era pequeno e pouco falta
para ter cem anos. “Enquanto o senhor Carlos Miranda foi vivo e pôde, quando a
cruz apodrecia fazia outra e ia lá colocá-la. Quando deixou de poder, perdeu-se
tudo!” (Maria da Conceição).
- Havia umas outras
alminhas no caminho para o Saião, construídas em memória de uma mulher que ali
faleceu, vitimada por uma peste (raio). Eram duas que andavam ao mato, mas só
ela é que foi atingida, quando estava a erguer o molho.
SOITO
- Alminhas em forma de
oratório, localizadas ao fundo da povoação, na berma da estrada para Malhada e
Fajão. São parecidas com as do Torgal, no Colmeal, divergindo por serem um
pouco mais largas e baixas e pelas paredes, que são revestidas e não
construídas a xisto. O painel em azulejo e tons de azul representa também a
imagem de Nossa Senhora de Fátima.
Estas alminhas foram
construídas na sequência da abertura da estrada entre o Soito e a Malhada, pelo
que terão cerca de quarenta anos. Foram feitas por Manuel de Carvalho, do
Colmeal e mandadas construir por Abel Nunes de Almeida, do Soito, que teve a
intenção de substituir umas que existiam na antiga estrada entre Colmeal e
Soito. Situavam-se na primeira curva a seguir à ribeira do Soito, num sítio
ainda hoje chamado “Almas”. Eram umas alminhas de alpendre em xisto, que
teriam, segundo uns um painel em madeira, segundo outros, a atual imagem da
Nossa Senhora de Fátima.
- Terão existido umas
outras alminhas na povoação, junto a um chafariz.
Terminada esta descrição
sumária do estado da arte das alminhas no Colmeal, reitero o pedido de
correções e aditamentos, com vista à preservação desta memória de todos nós. Alterando
ligeiramente o pedido dos necessitados de antigamente, alminhas do Colmeal, “pelas
almas de quem lá temos” …!
Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 13 de junho
de 2013
2 comentários:
- Tive oportunidade de ver, em fotografia, o painel das tais alminhas de alpendre, que existiram na Póvoa da Lomba, Carvalhal. É um painel simplesmente fabuloso e comovente. Agradeço muito à Cecília Barata Monteiro a sensibilidade da sua preservação e partilha.
- Não sei sobre outras, mas as alminhas do Colmeal já foram reparadas, conforme estava prometido pelo seu construtor, José Nunes. Agradeço, enquanto colmealense e defensora da preservação do património.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal
Agradeço, muito sensibilizada, este levantamento de património. Divulgando-o, decerto estimulará a sua preservação, o que nos enriquece a todos - é a memória dos nossos antepassados, o conhecimento e a compreensão dos seus sentimentos e preocupações.
Bem-haja!
Deonilde Almeida (Colmeal)
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