No passado dia 8 de Setembro, teve lugar no Colmeal uma feira rural. A organização esteve a cargo do Rancho Folclórico Serra do Ceira, que contou com o apoio da Junta de Freguesia do Colmeal e da Câmara Municipal de Góis, e a participação especial dos seguintes agrupamentos: Grupo Etnográfico da Região da Lousã, (Lousã), Rancho Folclórico as Sachadeiras da Várzea (Vila Nova do Ceira).Rancho Folclórico Estrelinhas do Sul (Seixal).
Decorrida a sessão de boas-vindas, a feira desenrolou-se durante todo o dia com as vertentes económica, cultural e convivial a interagirem e a potenciarem-se mutuamente, ao mesmo tempo que dinamizavam o comércio local e proporcionavam encontro e convívio.
No que toca ao mercado, os muitos feirantes primaram pela diversidade, beleza e genuinidade dos produtos que trouxeram. Na realidade uma diversidade espantosa, que incluía, entre muitos outros, produtos endógenos ao natural e transformados (hortícolas, fruta, compotas, pão, bolos, mel, várias bebidas, queijo, criação, aves …), arte e artesanato em várias das suas expressões (escultura, pintura de diferentes géneros, bordado, croché, bijutaria, tapeçaria, corte e costura …), velharias … A propósito, vi pela primeira vez uma braseira metálica tipo gaiola, que foi para o Soito, imagino que para integrar o espólio do núcleo museológico local, onde poderá ser vista. Da braseira em barro (bruxa) ou da enxó (de tanoeiro?) de que eu ando à procura é que nem sinal, não obstante a boa vontade dos amigos que se disponibilizaram para me ajudar!
Em termos de trocas, com as dificuldades que a todos afetam, é natural que os produtos mais procurados tenham sido os comestíveis. Mas quase todos foram objeto de saída. Curiosamente, troquei um livro por um valor diminuto, mas uma capucha por um razoável, embora inferior ao custo de produção, o que não deixa de dar que pensar!
Independentemente do espetáculo, uma vez mais gostei de ver o bom relacionamento e o intercâmbio entre os elementos dos diferentes ranchos, todos parecendo vestir somente a camisola da animação e do folclore. Tal como voltei a reparar na alegria e no prazer com que tocam, cantam e dançam, dançando mesmo quando o alinhamento não o exigia.
Foram encenadas e representadas a desfolhada e a debulha do milho. Desfolhada que outros chamam de descamisada e que aqui se chamava escapelar, consistindo a desfolhada na operação de tirar a folha à própria planta do milho, para estimular a maturação e providenciar palha para o gado.
Depois de colhido e trazido em cestas pelas mulheres, sacos pelos homens e cestos pelas crianças (O trabalho do menino é pouco, mas quem não o aproveita é louco, dizia-se), as espigas de milho foram primeiro escapeladas, isto é, libertas dos folhos que as protegem. Os bafejados com o chi (espiga preta ou milho-rei) distribuíam beijos e já não os abraços algumas vezes excessivamente apertados de antigamente. Desta vez, com a simulação de brigas de ciúmes entre os rapazes, tão bem representadas que pareciam a sério!
Depois de malhado a mangual, o milho foi acabado de escasular à mão, operação que alguns faziam recorrendo à velha técnica de soltar os grãos de um casulo, esfregando com outro já sem eles.
Por último, o milho foi erguido ao vento para o limpar e, seguidamente, medido a cesto de alqueire e ensacado, traduzindo-se a colheita em cerca de 5 alqueires. Variando entre 13 e 22 litros, em Góis o alqueire era de 14, em Arganil de 15 …
O milho deverá agora andar a secar estendido na eira e, mais dia, menos dia, teremos o prazer de o degustar transformado em broa pela Belmira que o cultivou. A perícia de alguns no desempenho das diferentes tarefas só pode advir da experiência real, o que não deixa de ser interessante, considerando a sua idade. Tudo tratado, enquanto os trabalhadores finalmente dançavam (o lazer e o divertimento associados ao trabalho), um cão aproveitava para descansar sobre os toldos deixados no chão!
Foi um acontecimento muito interessante, que mobilizou um grande número de pessoas, dando visibilidade à freguesia e às suas potencialidades. Estão de parabéns os organizadores Rancho Folclórico Serra do Ceira, as instituições apoiantes, os feirantes e os membros dos grupos etnográficos, os visitantes, que justificaram e honraram a iniciativa com os seus consumos e presença.
De visita ao evento, a senhora Presidente da Câmara, Drª Maria de Lurdes Castanheira, felicitou os organizadores e participantes, desejando a todos o maior sucesso.
A iniciativa foi objeto de parabéns e comentários positivos na sessão da Assembleia de Freguesia que teve lugar no passado dia 12 do corrente, tendo sido sugerida a sua realização pela menos de seis em seis meses. Seria uma forma de estímulo à produção e um contributo para a visibilidade e a sustentabilidade da freguesia.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 14 de Setembro de 2012.
1 comentário:
Parabéns pela iniciativa! Seria, de facto muito interessante que se repetisse com alguma regularidade, habituando os visitantes.
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