30 janeiro 2012

ARTES E OFÍCIOS … TAMBÉM DE ENVELHECER



Conforme noticiado, está patente ao público, no Posto de Turismo de Góis, a Exposição Artes e Ofícios, de Humberto de Matos.

Fui ver a exposição e gostei. É constituída por um conjunto de miniaturas em madeira de utensílios em desuso, devido ao facto de as práticas que serviam terem desaparecido ou assumido modos de fazer mais funcionais e menos penosos. São exemplo disso a picota, manifestação fantástica das chamadas tecnologias de aldeia, que foi substituída pelos modernos sistemas de rega e os carros de mão, que antes eram pesadões e não raro toscos, e hoje são leves e atraentes. Entre muitos outros objetos, do conjunto fazem parte as joelheiras, de que já não me recordava, apesar de se terem usado até tarde, para “escafonar”, de joelhos sobre elas e escova em riste, o soalho com sabão amarelo. Fazia-se essa operação por alturas da Festa e da Visita Pascal.


 
Sendo o autor das miniaturas um carpinteiro de alma e coração que é músico, como se diz no cartaz de divulgação da exposição, para além de perfeitas, as miniaturas revelam sensibilidade e gosto. Algumas, feitas com destinatário pré-definido, refletem e remetem para afetos. É o caso do barco Luciana e do banquinho, que me fez lembrar a cadeira desmontável (era uma cadeirinha e não um banco, Dominique!), que o meu Tio António me fez quando eu era pequena, e que tanto me encantou. Nunca mais encontrei uma cadeira à minha medida, fabricadas que são para gente grande!



As miniaturas deste artista, como as de outros, configuram um registo importante do património etnográfico da região. Não conhecia o autor. Quantos mais não conhecerei, sendo certo que a sua arte também pode ser vista como atividade produtiva e socialmente útil, na perspetiva económica, da ocupação criativa dos tempos livres ou do reforço do rendimento das famílias?


Face ao progressivo envelhecimento demográfico, que exige novos paradigmas e abordagens das problemáticas da terceira idade, decorre em 2012 o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações (Resolução do Conselho de Ministros nº 61/2011, DR, Iª Série, 22 de Dez. 2011).

De acordo com a referida resolução, a iniciativa visa, entre outros objetivos, promover o envelhecimento ativo, atualizando (no sentido de tornar real o que é virtual) valores como a solidariedade, a não discriminação, a autonomia e a independência, a participação, a dignidade, os cuidados e a auto-realização das pessoas idosas. Visa, ainda, suscitar a reflexão sobre os efeitos do envelhecimento demográfico, e sensibilizar os decisores políticos e a sociedade em geral para as oportunidades e desafios de que a longevidade é portadora.

Sem prejuízo de outras intervenções, não seria interessante organizar, no âmbito deste Ano, o levantamento e um grande encontro de artes e ofícios? Tratar-se-ia de um espaço de exposição e palavra e de um evento inclusivo, do ponto de vista geracional e das produções, podendo participar os artífices do artesanato clássico e urbano, dos bordados e rendas, das tintas e telas, da palavra, da música, da pedra e da madeira, da fotografia, das flores e tecidos … Promovendo a partilha e o reconhecimento social do capital de competência e saber, nomeadamente dos mais velhos, o encontro daria visibilidade aos talentos e estimularia a produção, ao mesmo tempo que contribuiria para elevar a autoestima individual e coletiva e para intensificar o convívio intergeracional e a integração social.

Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 23 de Janeiro de 2012.

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