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“ (…) Iam-se buscar paus de ervideiro ou medronheiro – tem os dois nomes – depois serravam-se, eram chanfrados, depois cozidos.
- Chanfrados?
- Sim, era cortar com uma machada em cima de um cepo. Ficava meio fuso feito. Depois de cozidos numa panela, eram secos no caniço para não racharem. Depois de bem secos, tornavam-se a pôr na água para amolecer, e depois serem apontados. Depois de apontados, ainda iam para o torno, e no torno é que ficavam uns fusos bonitos para vender. Ficavam muito bonitos. Ainda temos os tornos, e o meu irmão (nome) quer um, porque ainda os ajudou a fazer. No torno é que eles ficavam torneados, e depois iam vendê-los às feiras. Por isso é que os meus pais criaram tantos filhos. De dia, os meus pais trabalhavam no campo e, à noite, a minha mãe trabalhava na costura, e o meu pai, nos fusos. Quer dizer, todos trabalhavam porque os filhos também ajudavam. Os meus pais ensinaram os filhos todos a trabalhar. Tínhamos muitos animais e dava tudo fartura. (…) Éramos muitos, mas nunca tivemos fome. Com muito trabalho e bem orientados, nunca tivemos fome. (…)
Excerto de entrevista. A protagonista refere-se às décadas de cinquenta/sessenta.
Lisete de Matos
Outubro, 1998”
In “Dos Objectos para as Pessoas”, de Lisete de Matos, Açor – Colmeal, Junho de 2007, pag. 73
Ainda recentemente, por ocasião da realização do almoço de aniversário da Comissão de Melhoramentos de Ádela, João Lourenço, presidente da sua Assembleia-Geral, nos descrevia com muito entusiasmo e alguma saudade desse tempo, como se fazia um fuso. Ficámos admirados quando nos explicava que “tinham de ser chanfrados”…
Foto retirada de “Dos Objectos para as Pessoas”, de Lisete de Matos, Açor – Colmeal, Junho de 2007, pag. 72
A. Domingos Santos
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