Embora na nossa aldeia os
castanheiros já não abundem, estes foram durante séculos uma das árvores mais
valiosas, no tempo em que as castanhas constituíam um alimento essencial no
outono e no inverno, antes da generalização da batata e do milho. O magusto
nasceu, assim, da reunião das gentes após a apanha da castanha, como um momento
de agradecimento pela boa colheita e de reforço dos laços comunitários. Com o
passar dos séculos, esta celebração acabou por se associar ao culto de São
Martinho, o soldado romano que, segundo a lenda, cortou a capa ao meio para
abrigar um mendigo num dia frio — gesto que simboliza a solidariedade e o
espírito de partilha também presentes nos magustos.
A sabedoria milenar do
povo da Beira Serra recorda, num dos muitos provérbios associados ao mês de
novembro, que “Se o Inverno não erra o caminho, cá virá no São Martinho”.
Este ano, não foi preciso esperar por esse dia, pois, nos últimos dias de
outubro, o inverno já se fizera anunciar com chuva copiosa e trovoadas
retumbantes, de tal modo que, no Colmeal, por prudência, a direção da União Progressiva
da Freguesia do Colmeal decidiu alterar o local do tradicional magusto, marcado
para 1 de novembro, dia de Todos os Santos.
Há 50 anos, a edição do
boletim “O Colmeal” de setembro-dezembro de 1975 fazia eco das “Excursões
pelos Santos” em que “numerosos colmealenses residentes em Lisboa (…) se
deslocaram em automóveis particulares” ou se fizeram “transportar em
autocarros alugados” e visitaram a sua terra “a pretexto do magusto”, que
proporcionou “dias de alegre convívio familiar que a todos deixou boas
recordações”.
Este ano, os que se
deslocaram não foram certamente em tão grande número, devido às previsões
climatéricas menos favoráveis, por isso, de modo a assegurar abrigo aos que o
fizeram, em caso de muita chuva, que se anunciava, o magusto realizou-se, não
no Largo da Fonte, mas nas imediações do Centro de Convívio Padre Anselmo, mais
precisamente no pequeno largo traseiro, entre a Cruz da Rua e o Barroco.
Foi aí que o presidente
da delegação no Colmeal da U.P.F.C., o incansável Álvaro Domingos, conduziu,
mais uma vez, o processo com enorme dedicação e perícia, desde o arranjo da
caruma, há muito recolhida e bem-acondicionada, ao ateamento faseado do fogo e
à certificação de que todas as castanhas estavam bem assadas.
No final, todos os que
ousaram enfrentar as condições climatéricas e até lá se deslocaram puderam
saborear umas ótimas castanhas assadas, preparadas na fogueira, à moda
tradicional, bem acompanhadas por água-pé, jeropiga ou vinho abafado. Mas as
castanhas foram apenas o começo, pois no interior do Centro, todos puderam continuar
a confraternização e apreciar os deliciosos torresmos à moda da Anabela
Domingos, bem como provar muitos doces, trazidos pelos colmealenses que se
quiseram associar, onde não faltaram as tradicionais filhoses.
Este momento de encontro,
a que se associaram cerca de sete dezenas de colmealenses e amigos, foi ocasião
para assegurar a continuidade de uma das festas outonais mais emblemáticas da
nossa região, marcada pela comunhão comunitária, pelo fumo das castanhas
assadas, pelo cheiro do vinho novo e do fumeiro e pela celebração da partilha —
um eco das antigas festividades rurais em que os nossos antepassados celebravam
o fim das colheitas e o início do tempo frio.
No dia seguinte – dia de
Fiéis Defuntos – muitos foram os que participaram na celebração eucarística,
presidida pelo Padre Orlando, e na romagem ao cemitério do Colmeal, sufragando
os seus familiares e conterrâneos falecidos.






















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