26 novembro 2025

Magusto no Colmeal - “Se o Inverno não erra o caminho, cá virá no São Martinho”

 

Embora na nossa aldeia os castanheiros já não abundem, estes foram durante séculos uma das árvores mais valiosas, no tempo em que as castanhas constituíam um alimento essencial no outono e no inverno, antes da generalização da batata e do milho. O magusto nasceu, assim, da reunião das gentes após a apanha da castanha, como um momento de agradecimento pela boa colheita e de reforço dos laços comunitários. Com o passar dos séculos, esta celebração acabou por se associar ao culto de São Martinho, o soldado romano que, segundo a lenda, cortou a capa ao meio para abrigar um mendigo num dia frio — gesto que simboliza a solidariedade e o espírito de partilha também presentes nos magustos.

A sabedoria milenar do povo da Beira Serra recorda, num dos muitos provérbios associados ao mês de novembro, que “Se o Inverno não erra o caminho, cá virá no São Martinho”. Este ano, não foi preciso esperar por esse dia, pois, nos últimos dias de outubro, o inverno já se fizera anunciar com chuva copiosa e trovoadas retumbantes, de tal modo que, no Colmeal, por prudência, a direção da União Progressiva da Freguesia do Colmeal decidiu alterar o local do tradicional magusto, marcado para 1 de novembro, dia de Todos os Santos.

Há 50 anos, a edição do boletim “O Colmeal” de setembro-dezembro de 1975 fazia eco das “Excursões pelos Santos” em que “numerosos colmealenses residentes em Lisboa (…) se deslocaram em automóveis particulares” ou se fizeram “transportar em autocarros alugados” e visitaram a sua terra “a pretexto do magusto”, que proporcionou “dias de alegre convívio familiar que a todos deixou boas recordações”.

Este ano, os que se deslocaram não foram certamente em tão grande número, devido às previsões climatéricas menos favoráveis, por isso, de modo a assegurar abrigo aos que o fizeram, em caso de muita chuva, que se anunciava, o magusto realizou-se, não no Largo da Fonte, mas nas imediações do Centro de Convívio Padre Anselmo, mais precisamente no pequeno largo traseiro, entre a Cruz da Rua e o Barroco.



Foi aí que o presidente da delegação no Colmeal da U.P.F.C., o incansável Álvaro Domingos, conduziu, mais uma vez, o processo com enorme dedicação e perícia, desde o arranjo da caruma, há muito recolhida e bem-acondicionada, ao ateamento faseado do fogo e à certificação de que todas as castanhas estavam bem assadas.











No final, todos os que ousaram enfrentar as condições climatéricas e até lá se deslocaram puderam saborear umas ótimas castanhas assadas, preparadas na fogueira, à moda tradicional, bem acompanhadas por água-pé, jeropiga ou vinho abafado. Mas as castanhas foram apenas o começo, pois no interior do Centro, todos puderam continuar a confraternização e apreciar os deliciosos torresmos à moda da Anabela Domingos, bem como provar muitos doces, trazidos pelos colmealenses que se quiseram associar, onde não faltaram as tradicionais filhoses.









Este momento de encontro, a que se associaram cerca de sete dezenas de colmealenses e amigos, foi ocasião para assegurar a continuidade de uma das festas outonais mais emblemáticas da nossa região, marcada pela comunhão comunitária, pelo fumo das castanhas assadas, pelo cheiro do vinho novo e do fumeiro e pela celebração da partilha — um eco das antigas festividades rurais em que os nossos antepassados celebravam o fim das colheitas e o início do tempo frio.





No dia seguinte – dia de Fiéis Defuntos – muitos foram os que participaram na celebração eucarística, presidida pelo Padre Orlando, e na romagem ao cemitério do Colmeal, sufragando os seus familiares e conterrâneos falecidos.




 
UPFC - Novembro/2025


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