A roçadoira.
A cair em desuso, já foi rainha da atividade diária de um aldeão nas nossas serras. Com ela se limpavam caminhos, se cortava o mato para os animais, a lenha para consumo doméstico.
Era no fim, como diz o ditado, "Pau para toda a
colher".
Com a sua ausência, as nossas serras estão mais pobres e
tristes. Já não se formam os ranchos, que ao romper da aurora subiam as
íngremes encostas, sempre na esperança de conseguir o melhor mato
para os seus rebanhos, que no curral aguardavam. Se a roçadoira era a rainha, a
corda era o rei. Juntos reinavam as nossas vidas.
De manhã cedo se procurava a roçadoira e a corda, e se
partia para os campos, ou para o monte. Limpar levadas, pinheiros,
fazer carvalheiros para feijões e por fim no regresso a casa, lá vinha ela
majestosamente encaixada num molho de lenha, mato, fetos, etc,. Firmemente
segura pelo aperto da inseparável corda, seu complemento de tarefa,
Digo tristes, porque nas nossas serras já não se houve o
cantarolar dos moços e moças, enquanto roçam o seu molho de mato. Digo
pobres, porque as nossas serras já não são procuradas para roçar mato, Ir à
lenha, rama para o gado, apanhar medronho, fazer carvão. Na altura não tínhamos
acácias, eucaliptos, mas a maior parte dos aldeões tinham o seu pinhal.
Mantido rigorosamente limpo, era o mealheiro para qualquer emergência
financeira. - Um problema de saúde, a compra de um terreno, um evento social e
lá se vendia o pinhal.
Hoje temos a desertificação. As nossas serras já não são
limpas, os rebanhos já não se cruzam nas suas vertentes. Plantadas de
espécies invasoras de crescimento rápido, altamente voláteis a incêndios e
em parceria com as alterações climáticas, são um autêntico quebra
cabeça para o aldeão sobrevivente e para as autoridades, que as tutelam.
Desertificação, alterações climáticas, sentimento de
impunidade, são sinónimos sobre os quais nos devemos preocupar e encarar no
futuro.
Uma boa semana para todos.
Fotos:
A roçadoira |
A roçadoira e a corda do autor |
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Imagem das nossas serras |
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A carismática aldeia de Carvalhal do Sapo, mirando as suas montanhas. |
Colmeal, 30.09.2025
Domingos Nunes
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