Caminhar na natureza, especialmente junto à terra onde temos raízes, é uma experiência que ultrapassa o simples ato físico de andar. Para além do reencontro com os conterrâneos e do encontro com novos amigos, regressamos ao essencial, às origens, ao ritmo natural das coisas. Cada passo dado, em caminhos antigos ou trilhos familiares, desperta memórias, afetos e uma sensação profunda de pertença a algo que nos supera.
Certamente por isso, cerca de
cinquenta “caminhantes” responderam ao convite da União Progressiva da
Freguesia do Colmeal para, no dia 3 de maio, voltar a trilhar os “carreirinhos
da serra”, como diz a moda cantada pelo rancho folclórico Serra do Ceira, desta
vez em direção ao Açor.
O ponto de encontro foi o Centro
de Cultura e Convívio, bem no centro do Colmeal, onde foi servido um singelo
pequeno-almoço aos que se dispuseram a aventurar-se nesta caminhada, apesar de
todas as previsões meteorológicas anunciarem chuva forte, com possibilidade de
trovoada.
Com a t-shirt da “Rota das Colmeias” vestida e ouvidas as instruções dadas pelo incansável Presidente da Delegação Regional, José Álvaro, mentor da caminhada e responsável pelo excelente trabalho na limpeza de grande parte do percurso, a comitiva partiu rumo ao Largo da Fonte. Aí, a rampa para o Seladinho foi apenas uma pequena amostra das subidas “a sério” que nos esperavam, pelo Vale da Bica e Relva do Meio acima, passando pela Sentada da Panasqueira. O tempo agradável que então se fazia sentir permitia apreciar vastos horizontes, onde o verde se misturava com o azul do céu, as encostas se encontravam matizadas pelo rosa da urze e o amarelo das maias, e o Colmeal se vislumbrava, pequenino, lá no fundo.



Chegados ao Açor, onde antigas casas de xisto teimam em marcar presença, tal como as mais recentes “espantalhas” que dão cor à paisagem, os caminhantes foram muito bem acolhidos pelos habitantes desta pequena, mas hospitaleira aldeia, em particular pelos associados Amílcar, Lizete e Jorge Almeida, que providenciaram um “reforço alimentar e hídrico” repleto de iguarias, como o chouriço assado e as tradicionais filhoses, bem regadas (não só por água).
A caminhada foi, então, retomada,
com a chuva a começar a marcar presença, em direção à Ribeira de Ádela,
passando pelo Vale do Açor, Malhada do Açor, Vale da Loveira e Gaieiras,
topónimos pouco conhecidos pelas novas gerações, mas que, tal como outros da
antiga freguesia do Colmeal, não devem ser esquecidos, pois fazem parte do
nosso património. Houve ocasião para reparar na paisagem, marcada por socalcos
antigos e muros de pedra solta, onde ainda se sente o trabalho das gentes que
moldaram as nossas serras com grande esforço e respeito pela natureza.
A chegada à Portela, após cerca de uma dúzia quilómetros por caminhos outrora trilhados frequentemente pelas gentes destas terras, ao contrário do que hoje acontece, marcou o fim desta caminhada, que permitiu não só apreciar a beleza das paisagens, mas também experimentar uma certa sensação de intemporalidade, pelo reencontro com um ritmo mais lento e humano e o ar puro, longe do ruído e da azáfama das cidades.
Terminada mais uma edição da
“Rota das Colmeias”, foi tempo para, no aconchego do Centro e com a chuva a
cair abundantemente lá fora, os caminhantes, e muitos mais que a eles se
juntaram, se deliciarem com a Sopa da Pedra e a Grelhada Mista com arroz de
feijão que o Zé Nunes e a Ana tinham preparado, bem como com as sobremesas que
graciosamente tinham sido confecionadas pelos associados.
Um dia destes voltaremos aos
“carreirinhos da serra”, pois caminhar pelas terras do Colmeal, para nós, é
mais do que um exercício físico: é uma forma de regeneração emocional e
espiritual, numa comunhão com a natureza e com a história viva da nossa região.
A direção da UPFC
1 comentário:
“caminhar pelas terras do Colmeal, para nós, é mais do que um exercício físico: é uma forma de regeneração emocional e espiritual”
Obrigada, Rui! Que forma tão simples e bonita de traduzir o que sinto, quando estou muito tempo longe da serra.
Parabéns pela belíssima reportagem.
Deonilde Almeida
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