03 junho 2025

Prova de Ultra-Trail "Oh meu Deus"





A prova de Ultra-Trail "Oh meu Deus" organizada por Horizontes Turismo Desportivo, vai passar no Colmeal!!!

Com inicio na Lousã, e o final a ser em Seia, a organização escolheu o Colmeal para ser um dos pontos de abastecimento da prova! 

Serão cerca de 90 participantes que irão passar no nosso Centro de Cultura e Convívio do Colmeal para serem abastecidos com água e comida. 

A prova passa no Colmeal pelas 19:30 de dia 6 de junho, sexta feira, e termina às 00:30 de dia 7, sábado.

É para nós um enorme gosto fazer parte desta prova internacional de Ultra-Trail, muito agradecemos ao Município de Góis, que gentilmente falou das nossas instalações e da nossa forma de receber á organização da prova.

O nosso obrigado à Horizontes Turismo Desportivo!

Venha ver os atletas!

 A Direção da UPFC!


01 junho 2025

Rota das Colmeias – 2025


Caminhar na natureza, especialmente junto à terra onde temos raízes, é uma experiência que ultrapassa o simples ato físico de andar. Para além do reencontro com os conterrâneos e do encontro com novos amigos, regressamos ao essencial, às origens, ao ritmo natural das coisas. Cada passo dado, em caminhos antigos ou trilhos familiares, desperta memórias, afetos e uma sensação profunda de pertença a algo que nos supera.

Certamente por isso, cerca de cinquenta “caminhantes” responderam ao convite da União Progressiva da Freguesia do Colmeal para, no dia 3 de maio, voltar a trilhar os “carreirinhos da serra”, como diz a moda cantada pelo rancho folclórico Serra do Ceira, desta vez em direção ao Açor.

O ponto de encontro foi o Centro de Cultura e Convívio, bem no centro do Colmeal, onde foi servido um singelo pequeno-almoço aos que se dispuseram a aventurar-se nesta caminhada, apesar de todas as previsões meteorológicas anunciarem chuva forte, com possibilidade de trovoada.









Com a t-shirt da “Rota das Colmeias” vestida e ouvidas as instruções dadas pelo incansável Presidente da Delegação Regional, José Álvaro, mentor da caminhada e responsável pelo excelente trabalho na limpeza de grande parte do percurso, a comitiva partiu rumo ao Largo da Fonte. Aí, a rampa para o Seladinho foi apenas uma pequena amostra das subidas “a sério” que nos esperavam, pelo Vale da Bica e Relva do Meio acima, passando pela Sentada da Panasqueira. O tempo agradável que então se fazia sentir permitia apreciar vastos horizontes, onde o verde se misturava com o azul do céu, as encostas se encontravam matizadas pelo rosa da urze e o amarelo das maias, e o Colmeal se vislumbrava, pequenino, lá no fundo.





Chegados ao Açor, onde antigas casas de xisto teimam em marcar presença, tal como as mais recentes “espantalhas” que dão cor à paisagem, os caminhantes foram muito bem acolhidos pelos habitantes desta pequena, mas hospitaleira aldeia, em particular pelos associados Amílcar, Lizete e Jorge Almeida, que providenciaram um “reforço alimentar e hídrico” repleto de iguarias, como o chouriço assado e as tradicionais filhoses, bem regadas (não só por água).














A caminhada foi, então, retomada, com a chuva a começar a marcar presença, em direção à Ribeira de Ádela, passando pelo Vale do Açor, Malhada do Açor, Vale da Loveira e Gaieiras, topónimos pouco conhecidos pelas novas gerações, mas que, tal como outros da antiga freguesia do Colmeal, não devem ser esquecidos, pois fazem parte do nosso património. Houve ocasião para reparar na paisagem, marcada por socalcos antigos e muros de pedra solta, onde ainda se sente o trabalho das gentes que moldaram as nossas serras com grande esforço e respeito pela natureza.











A chegada à Portela, após cerca de uma dúzia quilómetros por caminhos outrora trilhados frequentemente pelas gentes destas terras, ao contrário do que hoje acontece, marcou o fim desta caminhada, que permitiu não só apreciar a beleza das paisagens, mas também experimentar uma certa sensação de intemporalidade, pelo reencontro com um ritmo mais lento e humano e o ar puro, longe do ruído e da azáfama das cidades.

Terminada mais uma edição da “Rota das Colmeias”, foi tempo para, no aconchego do Centro e com a chuva a cair abundantemente lá fora, os caminhantes, e muitos mais que a eles se juntaram, se deliciarem com a Sopa da Pedra e a Grelhada Mista com arroz de feijão que o Zé Nunes e a Ana tinham preparado, bem como com as sobremesas que graciosamente tinham sido confecionadas pelos associados.
















Um dia destes voltaremos aos “carreirinhos da serra”, pois caminhar pelas terras do Colmeal, para nós, é mais do que um exercício físico: é uma forma de regeneração emocional e espiritual, numa comunhão com a natureza e com a história viva da nossa região.

 

A direção da UPFC


12 maio 2025

PÁSCOA NO COLMEAL – 2025: Fé, Comunidade e Tradição


A Páscoa, em particular a visita pascal, também conhecida por “compasso” especialmente no Norte do País, é vivida no Colmeal, com profunda emoção, marcada pela alegria da ressurreição de Jesus, mas também pelo reencontro entre vizinhos e familiares que regressam à sua “terra” nesta ocasião.


No Colmeal, aldeia serrana onde o despovoamento, tal como em tantas outras, tem deixado marcas visíveis, a visita pascal pode dizer-se que assume também uma função simbólica de resistência cultural. Em cada beijo ou gesto de reverência à cruz, em cada oração dita em uníssono, no toque da sineta que ecoa por toda a aldeia, revive-se a memória de outros tempos mais cheios, mais ruidosos de vida, onde a fé e a festa andavam de mãos dadas. Os mais velhos transmitem aos mais novos o sentido do ritual, tornando este momento numa passagem viva de valores e de tradição.

“A pequenina aldeia do Colmeal, sede de freguesia, parecia já uma terra citadina, com movimento e desenvoltura. O largo da Fonte assemelhava-se a um pequeno parque de estacionamento de automóveis; já se viam fatos domingueiros à moda da cidade, já as ruas estreitas e empedradas davam para portas abertas de ano a ano. É a Páscoa. Muitas pessoas de Lisboa e outros sítios quiseram vir aqui passar o dia da Ressurreição do Senhor. Vieram, embora só por visita, e fizeram bem. Reviver tempos idos e lembrar a infância é cortar longas horas na catadupa veloz da vida, é viver o passado no presente, é adormecer na melopeia compassada do dia a dia.” (in “O Colmeal”, boletim mensal da paróquia, nº 68, abril de 1966; responsável – Padre António Diniz)

A chuva que caiu copiosamente sobre o Colmeal e o vale do Ceira no período do tríduo pascal, não impediu que, de novo, a alegria da Páscoa se fizesse sentir na nossa aldeia, onde, à semelhança do que o articulista do jornal “O Colmeal” referia, há quase 60 anos, afluíram muitos colmealenses, que, “embora só por visita”, não quiseram deixar de estar presentes neste período festivo, este ano marcado por algumas novidades.

Na tarde de sexta-feira, aproveitou-se a presença, no Colmeal, de muitos elementos dos corpos sociais da União Progressiva da Freguesia do Colmeal e de outros associados para, em conjunto, trocar impressões sobre as próximas atividades da coletividade, que em setembro assinalará os 94 anos de existência.

 


Uma novidade deste ano foi o espetáculo musical que teve como protagonista o cantor Cristiano Cardoso Neves, vindo de Ançã, que interpretou um leque variado de composições musicais, de Zeca Afonso aos Quatro e Meia, incluindo uma composição original (“Dona Carlota Joaquina”), as quais agradaram e animaram os que, naquela tarde chuvosa de sábado, afluíram em número significativo ao salão da Casa de Cultura e Convívio do Colmeal (o “Centro”). A U.P.F.C. aproveita para agradecer à Comunidade Local dos Baldios do Colmeal pela sua colaboração neste evento, bem como a todos os associados e amigos que contribuíram com géneros para os dois cabazes de Páscoa que foram sorteados e a todos os que, comprando as rifas, deram o seu contributo para esta iniciativa.



Ao cair da noite, outra novidade foi a vigília pascal, que fazia anos não se celebrava na nossa igreja, a qual se encheu para celebrar a “mãe de todas as vigílias”, assim chamada por Santo Agostinho, pela sua riqueza simbólica, tal como o celebrante, o pároco, padre Orlando, teve ocasião de relembrar aos fiéis presentes. De forma simples e vivida, celebrou-se a passagem “da morte para a vida”, com a Liturgia da Luz, a Liturgia da Palavra, a Liturgia Batismal e a Liturgia Eucarística, marcadas pela alegria da Ressurreição de Cristo.



Na manhã do domingo de Páscoa, teve lugar a tradicional visita pascal, um ritual cujas origens se perdem no tempo e que, para além da sua dimensão eminentemente religiosa – o prolongamento litúrgico da celebração da Páscoa com o anúncio da Ressurreição de Cristo, bem como a bênção dos lares dos fiéis –, funciona como símbolo de pertença à comunidade colmealense e um momento de reencontro entre os que vivem dispersos em tantas localidades.




Se em 1960, tal como então informava “O Colmeal”, a visita pascal se prolongava por três dias, pois decorria no “Domingo de Páscoa – Colmeal, Carvalhal, Aldeia Velha, Porto Chão, Coiços e Loural. Segunda-feira – Foz da Cova, Quinta de Belide, Malhada. Carrimá e Soito. Domingo de Pascoela – Sobral, Salgado, Saião, Val de Asna, Ádela e Açor”, este ano, à semelhança dos anos anteriores, dois grupos de leigos asseguraram a visita no domingo de Páscoa: um percorrendo as localidades da antiga freguesia do Colmeal situadas na margem esquerda do Ceira (Carvalhal, Aldeia Velha, Soito e Malhada), e outro as da margem direita (Colmeal, Ádela, Açor e Sobral).



O percurso das “Boas-Festas” no Colmeal, assinalado pelo tradicional som do badalo da sineta, foi, também, o habitual, tendo início na Eira, passando pelo Estreitinho, o Barroco, a Cruz da Rua, o Canto, o Cimo do Lugar, o Largo da Fonte, o Lombo das Vinhas e terminando no Soladinho, num total de cerca de 30 casas onde se fez ouvir o anúncio, feito pelo sacristão, acompanhado pela aspersão de água benta: “Este é o dia que o Senhor fez. Nele exultemos e nos alegremos, Aleluia, Aleluia!”.



Para além das amêndoas, folares, ovos e coelhinhos de chocolate, associados às festividades pascais na atualidade, não passou despercebida a tradição da presença, nas mesas de algumas casas, de laranjas, associadas à hospitalidade, à partilha e à renovação primaveril, um sinal singelo da alegria pascal expressa através dos recursos simples da terra.

Conservar estas tradições é conservar a alma do Colmeal. A celebração da Páscoa, especialmente a visita pascal, continua a ser um espelho da história e da fé da nossa aldeia, um testemunho de como, mesmo em tempos de mudança, a nossa comunidade encontra no sagrado e no simbólico o alimento necessário para manter viva a sua identidade.

Rui Ferreira

UPFC