Mais um livro de
Adriano Pacheco. Mais um livro, e mais um contributo do autor para a
visibilidade dos modos de vida que, na Beira Serra, empurraram as pessoas para
a (e)migração e, na cidade, as absorveram e distinguiram, já que escolheram Lisboa
como destino favorito. É uma obra onde o autor convoca o conhecimento e a
memória para falar, primeiro de carvoeiros e moleiros e da sua importância
durante a Segunda Guerra, depois, de muitas das vertentes da vida no novo contexto
de inserção: o alojamento precário ou partilhado; o interconhecimento como fator
de obtenção ou melhoria de emprego; a especialização profissional por área
geográfica de origem; a solidariedade conterrânea; a ligação às origens …
Tal como
anteriormente o “Dez Reis de Gente”, também o “Idalécio”, personagem principal
da obra, pode ser cada um dos que ousaram partir e ter sucesso, através da
iniciativa e do trabalho esforçado, da inteligência e da organização.
Enfim, um livro com um pé
lá e outro cá, em vai e vem entre
a cidade e a terra, exatamente como
os protagonistas do êxodo e, hoje, alguns dos seus descendentes.
Do ponto de vista do estilo, Adriano Pacheco continua a usar
a ficção e uma escrita pródiga em reflexões e expressões locais, para destacar valores
e práticas, ao mesmo tempo que faz “um registo apaixonado muito próximo da
verdade dos factos” (p. 9). A partir de um título que pode ser visto como metáfora:
carvoeiro na aldeia, taxista e empresário de transportes na cidade, de permeio,
os fogareiros a carvão ou petróleo, em que os recém-chegados cozinhavam, nesses
longínquos meados do século passado.
Pois, é que os “fogareiros” são os taxistas! Estes
profissionais terão ganho a alcunha depreciativa, entre outras explicações, em
virtude das qualidades pirotécnicas dos carros a gasogénio, no pós-guerra, da
pressa com que andam ou, ainda, da fraca cordialidade de alguns (pp. 73-74, 122-126).
Parece que o epiteto também se aplicava à generalidade dos aselhas em matéria
de condução!
Não me canso de enaltecer a capacidade de escrita de Adriano
Pacheco. Obrigada por utilizá-la para falar de realidades e grupos sociais que continuam
pouco valorizados, enquanto sujeitos e agentes da história.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 21 dezembro de 2015.