01 julho 2015

A União foi ver “As Jóias do Minho” – 3º dia

Manteve-se o bom tempo no terceiro dia da nossa incursão por terras do Minho e por entre o Norte de Portugal e a Galiza rumámos até Valença, que se situa no centro do Noroeste Peninsular. É uma cidade histórica e símbolo das relações transfronteiriças entre os dois países, onde se sente a magia de estar com um pé em Portugal e outro em Espanha, na antiga ponte metálica internacional, a passagem histórica da fronteira deste percurso secular dos caminhos de Santiago.













A fortificação medieval da Valença foi fundada pelo rei D. Sancho I no início do séc. XIII e implantada sobre um antigo povoado fortificado romanizado. O posicionamento estratégico na fronteira, em frente a Tui e no eixo da principal via de ligação do Noroeste Peninsular, proporcionou a Valença, um ousado projecto de fortificação, que respondia às modernas artes da guerra e que ainda hoje se apresenta em perfeito estado de conservação. A Fortaleza, Monumento Nacional e candidata a Património da Humanidade é constituída por três níveis de defesa e apresenta um núcleo urbano delimitado por dois recintos fortificados distintos com forma elíptica, o Recinto Magistral e a Coroada. Ao tocarmos em cada uma das suas pedras sentimos a sua história que ali começou a erguer-se há mais de 20 séculos.






O Palácio da Brejoeira foi a paragem seguinte para uma visita guiada. Fica situado na freguesia de Pinheiros, concelho de Monção e é desde 1910 Património Nacional. Sendo propriedade privada, decidiu abrir as suas portas e partilhar toda a beleza e relíquias escondidas, saciando a curiosidade de tantos quantos passavam do lado de fora dos portões e o admiravam.






Ex-líbris da região do Alto Minho é uma grandiosa construção em estilo neoclássico, dos princípios do século XIX. Casa senhorial circundada de altos muros, ao gosto da época, com um frondoso parque de essências arbóreas centenárias e pouco vulgares. É um conjunto notável – Palácio, capela, bosque, jardins, vinha e adega antiga que seduz e encanta pela harmonia que dela emana.



Data de 1806 o início da sua construção. Em 1937, Francisco d’Oliveira Paes adquire-o para o oferecer à sua filha Hermínia e actual proprietária. É um palácio construído na encantadora Quinta do Valle da Roza, actual Quinta da Brejoeira, com grandes e luxuosos salões, imensa biblioteca, jardim de inverno, capela, teatro, azulejos figurativos, pratas, loiças do oriente, mobiliário de madre pérola e pau-preto, onde tudo ali é palaciano e pode ser visitado.






Para lá dos seus jardins, cultivam-se com esmero 18 dos 30 hectares da propriedade com vinha da casta Alvarinho que Hermínia Paes transformou num dos mais emblemáticos vinhos da sub-região de Monção e Melgaço.
A casta Alvarinho plantada em solos de componente argilo-calcário dá origem a um vinho de cor palha, brilhante, com reflexos citrinos, com aroma intenso à casta, delicado e complexo. O estágio em garrafa dá-lhe um sabor harmonioso e persistente, realçando as características ímpares na nobre casta na sua máxima originalidade.
A Aguardente Bagaceira é destilada segundo os costumes ancestrais da região nos alambiques do Palácio e a Aguardente Velha, produzida a partir de uma destilação de uma rigorosa selecção de vinhos da casta “Alvarinho” é envelhecida em barricas de carvalho francês, permanecendo na adega antiga, em estágio, entre 10 a 12 anos.





Terminada a visita ao interior do edifício deparamo-nos com um dos espaços mais contemplativos e relaxantes do Palácio da Brejoeira – o fabuloso jardim das Camélias com mais de 20 espécies diferentes. No cenário descobre-se ainda um pequeno lago embelezado por nenúfares e duas estátuas, a Deusa Ceres, dos Cereais e da Agricultura e a Deusa Flora, Deusa da Fertilidade. Mais uns passos e estamos na Avenida das Tílias. Uma “passerelle” centenária, um miradouro sobre as vinhas. Na lateral direita, uma antiga casa de jogos que servia também de ginásio e no final da avenida um majestoso pombal.




Passeamos ainda pela Avenida dos Plátanos, contemplamos a ilha dos Amores, o bosque, o lago e os jardins vários que sempre proporcionam verdadeiros momentos de paz, tranquilidade e descontracção. No final, desfrutámos de uma prova de vinhos.






Continuámos para a vila de Monção que foi ocupada desde tempos imemoriais. Mas, até à Idade do Ferro, tempos áureos da Cultura Castreja, pouco se sabe da ocupação deste lugar. Só após a formação de Portugal e da afirmação do rio Minho como linha de fronteira surgem mais dados sobre a vida desta vila raiana.
Dotada de um pequeno castelo, do qual resta apenas uma parte, podemos ainda apreciar os seus arruamentos estreitos e casas esguias, cujas portadas e janelas ainda possuem algumas características medievais. A fortaleza de Monção terá sido executada na segunda metade do século XVII e constituía uma das quatro grandes fortalezas em que assentava a antiga defesa do Noroeste português.
Povo sujeito a inúmeras lutas e conflitos, protagonista de histórias de conquistas e de bravura na resistência aos ataques, as gentes de Monção desenvolveram ao longo dos séculos inúmeras formas de expressão popular, artes e ofícios que traduziam os modos de vida e os costumes, frequentemente associados aos próprios rituais agrícolas e pastoris.







A presença do rio Minho influenciou não apenas a evolução histórica do concelho e Monção, mas também a sua cultura, nas mais variadas formas, quer pelos recursos que proporcionava, e que permitiram o desenvolvimento de uma riquíssima gastronomia, quer pelos condicionalismos e benefícios que impunha ao território, e que foram demarcando grande parte das suas histórias e tradições.




Com efeito, a gastronomia local é um reflexo da riqueza dos recursos naturais do concelho e da forma tão sábia como as gentes se souberam apropriar desses recursos, seja o Arroz de Lampreia ou o Cordeiro à Moda de Monção. Contudo, é talvez ao nível dos vinhos que Monção é mais afamado, ou não fosse o concelho conhecido como “Berço do Alvarinho”.
O almoço foi servido no aprazível e bem situado Hotel Convento dos Capuchos. O restaurante integra o espaço que já foi a capela Privativa do Convento e mais tarde a Adega da quinta, conservando elementos arquitectónicos típicos dessa utilização como o arco abatido do coro ou a prensa de esmagar as uvas, e onde se fizeram experiências do primeiro vinho alvarinho engarrafado









Melgaço situa-se na região mais a norte de Portugal. Com três fronteiras ou acessos de ligação á Galiza possui uma grande diversidade de valores culturais que fazem a história das diferentes épocas, desde a Pré-História aos dias de hoje. Um legado arqueológico rico e variado que podemos observar nos castros e monumentos megalíticos e também na arquitectura religiosa, civil e militar. Terra de fronteira, é ainda muito rica em tradições, histórias, lendas e testemunhos de vivências passadas, em que a emigração e o contrabando surgem muitas vezes como protagonistas.





Detentor de uma rica e saborosa gastronomia, o Concelho de Melgaço é igualmente conhecido pela excelência do vinho Alvarinho que ali se produz, revelando a estreita ligação entre o território e as gentes que o foram habitando ao longo dos tempos, sempre tentando dele extrair os melhores valores, mas preservando-o, de forma inequívoca, e mantendo intactas algumas das mais belas paisagens de Portugal.

As origens deste território que hoje conhecemos como Melgaço são muito antigas e recuando ao período da Pré-História, encontramos os primeiros vestígios de ocupação humana, no Planalto de Castro Laboreiro. Durante o período medieval, Melgaço, foi o primeiro e um dos mais importantes pólos fronteiriços. Pensa-se que o castelo tenha sido mandado reconstruir por volta de 1170, por ordem de D. Afonso Henriques, sendo que a torre de menagem terá sido erguida mais tarde. A vila começou a ser rodeada de uma cerca defensiva no reinado de D. Sancho II e por volta de 1245, já estava a ser construída a muralha que terá sido terminada cerca de vinte anos mais tarde.







Regressados a Braga e depois de mais um dia espectacular, a boa disposição e o apetite continuaram ao jantar.




A terminar este terceiro dia apenas uma nota referente ao “lenço dos namorados”. 
É feito a partir de um pano de linho fino ou de lenço de algodão, bordado com motivos variados. Peça de artesanato e vestuário típico do Minho, usado por mulheres com idade de casar. Era hábito a rapariga apaixonada bordar o seu lenço e entregá-lo ao seu amado quando este se fosse ausentar. Nos lenços poderiam ter bordados versos, para além de vários desenhos, alguns padronizados, tendo simbologias próprias. 

Era usado como ritual de conquista. Depois de confeccionado, o lenço acabaria por chegar à posse do homem amado, que o passaria a usar em público como modo de mostrar que tinha dado início a uma relação. Se o namorado, também chamado de conversado, não usasse o lenço publicamente era sinal que tinha decidido não dar início a ligação amorosa. 

É provável que a origem dos "Lenços de Namorados" também conhecidos por "Lenços de Pedidos" esteja intimamente ligada aos lenços senhoris dos séculos XVII - XVIII, que posteriormente foram adaptados pelas mulheres do povo, com pouca ou nenhuma escolaridade e daí os erros de escrita, e lhes foram dando um aspecto característico.


A. Domingos Santos
Fotos (excepto interior do Palácio da Brejoeira) e composição do texto


2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, já faz amanhã 15 dias que partimos para este passeio.O tempo ia passando com alegria e boa disposição do grupo.Quem diria que iamos assistir às noitadas do S. João em Braga.

Saudações à organização.


Santos só falta a foto do Tais!!!

Margarida Faria disse...

Continuação de belissima viagem com otima reportagem fotográfica.
Ainda não consegui rever as fotos que tirei, mas tenho a certeza de que a minha reportagem é bem mais fraquita.
Um muito obrigada e um bom abraço,
Margarida