17 abril 2013

A cozinha da habitação tradicional



Na cozinha, onde muitos comem as refeições, há os tropeços (bancos de cortiça), cepos feitos de troncos de árvores, tripeças (bancos com três pernas) todos em maior ou menor número consoante a cozinha é ou não de cabouco, isto é, tem ou não tem pavimento mais fundo que o sobrado da casa, porque, em tal caso, este serve de assento.

No alto da cozinha, por cima do lume, fica a caniceira ou caniço, estrado de vergas de castanho, que serve, onde ainda há soutos, para secar as castanhas, e por baixo do caniço varas para secar o fumeiro (enchidos) de porco. Há sempre por baixo do caniço, uma estaca forte, espetada na parede, para suportar as cadeias (de ferro) o caldeirão (Madeirã) de onde pendem as caldeiras da vianda dos porcos e panelas de ferro com asa, para cozinhar e aquecer água.

O comprimento das cadeias é regulado por um gancho que se mete nas argolas, mais abaixo ou mais acima, para se descer ou elevar à altura desejada.

O trem de cozinha consta de panelas, tachos, sertãs ou certages (Oleiros) de ferro, para fritos.

Há sempre uma tenaz para atiçar o lume, um espeto de ferro para os assados, uma trempe para assento das sertãs e tachos, o saleiro de cortiça ou madeira), a almotolia, de lata, para o azeite, e uma garrafa, às vezes uma cabaça das que criam nas hortas, para o vinagre.

Em muitas casas dos concelhos do sul (Sertã e Oleiros) aproveitam a bexiga de porco, a que adaptam um bocal das borrachas de vinho, para recipiente do azeite.

Retirado de “Etnografia da Beira”, de Dr. Jaime Lopes Dias, etnógrafo, investigador e regionalista, referido no livro “Sabores da Aldeia”, pág. 26 – Edição da ADXTUR – Agência de Desenvolvimento Turístico das Aldeias de Xisto.

Foto de A. Domingos Santos

1 comentário:

Anónimo disse...

Estar "à cozinha" era sinónimo de convívio familiar, na zona mais aquecida da casa. Também havia um gato! Quase consigo ver o meu avô, ali sentado, agarrado à sua bengala... e a minha avó, com as suas cinco agulhas, a fazer meias...
Há memórias da infância que funcionam como um cantinho de afectos, onde nos refugiamos nos dias mais cinzentos.
Bem-hajam por estas memórias!

Deonilde Almeida (Colmeal)