10 janeiro 2012

Biblioteca de Manuel Nunes de Almeida oferecida à União



Manuel Nunes de Almeida nasceu na aldeia da Foz da Cova a 13 de Maio de 1917, dia da aparição de Nossa Senhora de Fátima, de quem era grande devoto.

Permaneceu na sua aldeia até aos 12 anos. Começou a trabalhar no campo e a guardar gado desde tenra idade (6 anos). Quando veio para Lisboa foi trabalhar para a barbearia da família, na Mouraria. Ali trabalhou com o pai (que tinha o mesmo nome) e com os irmãos, até ir para a tropa.

Foi analfabeto até aos 19 anos porque o pai não queria que os filhos estudassem.
Muito inteligente e com grande força de vontade para aprender continuou a trabalhar mas foi estudar à noite. Saiu da barbearia e começou a trabalhar na indústria hoteleira. Esteve em vários hotéis de Lisboa, Caldas da Rainha e Sintra, onde foi Director do Hotel Seteais. Voltou para Lisboa, para o Hotel Tivoli na Avenida da Liberdade, como Chefe da Portaria, onde se manteve até se reformar. Ajudou muitas pessoas da terra e conseguiu arranjar emprego no Hotel para alguns jovens, como grooms.

Devido à sua actividade profissional e ao grande interesse em se valorizar fez vários cursos de línguas tendo estudado no Instituto Alemão, Instituto Espanhol, Instituto Italiano e British Council, pelo que sabia falar fluentemente francês, inglês, espanhol, italiano e alemão.
No princípio da década de 60 iniciou o curso de Direito que não concluiu – ficando-se pelo terceiro ano. Tirou algumas cadeiras na Universidade de Coimbra mas a maioria foi na Universidade de Lisboa.

Mais tarde deu alguns passos pela escrita e segundo ele, “a sua actividade literária, em prosa, foi um acidente na sua vida emocional porque a sua sensibilidade de expressão escrita aliciava-o fortemente para a poesia”. No entanto a “sua razão recalcitrava” e empurrou-o para a prosa.

O seu primeiro livro foi «O Homem e a Montanha» que escreveu em cerca de quarenta dias. “Corria o verão de 1971, a uma janela da minha casa, na minha propriedade – Quinta das Águias – na freguesia do Colmeal de Góis, espraiava eu o calmo olhar sobre o imenso mar de verdura, que emergia de todo o vale do alto Ceira, eis que vejo uma delgada coluna de fumo, ainda ténue, característica de fogo que acaba de ser aceso, subindo bem alto, acima do infindo plano verde-esmeralda, que era então toda a área dos vales e encostas das serras da Lousã e do Açor, digamos mais precisamente, todo o maciço da Beira Interior. Faltavam dez minutos para as oito horas da manhã. Liguei imediatamente para os serviços florestais de Arganil…

À noite, já o fogo tinha atingido os píncaros da serra do Açor e descia para norte da serra, e alastrava, tudo destruindo, à sua passagem. Foram três dias e três noites naquele inferno de fogo. À sua fúria nada resistiu! E as encostas do alto Ceira e toda a serra do Açor, que anteriormente era uma imensa floresta, um verdadeiro mar de verdura, ficou tudo negro da cor do carvão, e ainda hoje, nada mais é do que matagais impenetráveis sem qualquer utilidade.”

«Levante-se o Réu», é outra obra sua que se situa numa altura em que o país se confrontava com a tragédia da Guerra Colonial e se intensificava a desertificação rural do interior, com a emigração e a migração maciça de famílias completas para os centros populacionais do litoral. Em «Missão de Mãe» fala-nos de uma Lucinda que nascera num lar humilde, algures na Beira Alta, filha dum casal pobre que vivia num lugarejo, implantado numa encosta agreste…

Manuel Nunes de Almeida faleceu em Lisboa em 6 de Dezembro de 2009.
Recentemente a sua filha, Dr.ª Maria Manuela Nunes de Almeida, comunicou-nos o desejo de seu pai para “que os seus livros fossem para a sua terra e pudessem ser partilhados e utilizados por quem necessite”.
Como nos disse no final “Estou extremamente feliz por vos ter entregue os livros do meu querido e amado pai. Eu tenho muito orgulho do grande homem que foi e é o meu pai.”

Brevemente todos estes seus livros, do curso de Direito e outros, estarão disponíveis na Biblioteca da União no Colmeal, onde já se encontram as suas obras aqui referidas.

A União Progressiva da Freguesia do Colmeal sente-se muito lisonjeada pela honra de ter sido escolhida para receber este valioso espólio de um homem que à sua custa se fez homem. Se fez um GRANDE HOMEM!

P’la Direcção da UPFC
António Domingos Santos

Foto de Francisco Silva
Manuel Nunes de Almeida com a esposa e a filha no almoço dos 75 anos da União

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