10 maio 2011

PÉ n’A TERRA E NA RIBEIRA

Conforme divulgado, ocorreu recentemente no Açor, freguesia do Colmeal, a atividade “Flora Autóctone na Ribeira”. Integrando-se na iniciativa “PÉ n’A TERRA” do Projeto Biodiversity4all, a atividade visava proceder à identificação e levantamento da flora autóctone existente naquele lugar.
Apesar das desistências motivadas pela chuva diluvial do dia anterior, participou na expedição um grupo muito entusiasta e interessado, que primou pela cordialidade do convívio e pela intensidade do encontro e da partilha. Numa primeira manifestação da riqueza da biodiversidade local, a serra apresentava-se garbosamente vestida com a garridice das cores da Primavera. Dependendo da composição do solo e da orientação face ao sol, o verde caraterístico alternava ora com o amarelo vivo da carqueja, do tojo e da giesta, ora com o vermelho tinto da moiteira preta ainda viçosa e da queiró que começava a desabrochar. Aqui e ali, avistavam-se a moiteira branca ainda florida e o rosmaninho roxo prestes a florir.
Ajudada pelos bordões (um luxo, alguns!), a descida processou-se lentamente, com os participantes a pararem frequentemente para observar o património ou a biodiversidade.
Neste último domínio, o grupo cruzou-se com uma variedade assombrosa de espécies pertencentes a reinos, classes e famílias muito distintos. Não as podendo mencionar todas, destacam-se o tritão-marmoreado que descansava no fundo do poço, a aquilégia sempre bela e discreta, a espora-brava provocante e as muitas outras florezitas que então enfeitavam as bermas do caminho. Outros fossem os nossos meios, e teríamos podido captar o aroma doce da flor da laranjeira e do sabugueiro, o chamamento do peto e as serenatas do tentilhão. Não se ouviu o cuco. Deve ter decidido nesse dia pôr o pé noutra terra!
Na Ribeira, que parece uma floresta virgem, esperavam o grupo umas caracoletas apaixonadas e um sapinho minúsculo disfarçado com a cor vermelha das pedras onde se aquecia ao sol!
Entre muitas outras, lá estavam as tais espécies arbustivas e arbóreas que terão feito parte da flora original da região, datando de há cerca de dois milhões de anos: o folhado florido e a lentisca, o azereiro mais raro ainda sem flor, a aderneira também florida, o carvalho alvarinho, o feto-real e outros … Pelo caminho, tínhamos visto sobreiros e castanheiros. Na descida saudámos Ádela próxima, lá do fundo, pela nesga de céu visível, Aldeia Velha distante.
O grupo despediu-se do sítio com alguns participantes já a programarem o regresso. Depois do refresco prometido e da distribuição da documentação, entre a qual o folheto “Encantos e Recantos do Ceira” oferecido pela Junta de Freguesia, interrompeu-se o evento até data oportuna.
Não querendo deixar de participar, o pisco-ferreiro chegou pouco depois. Prefere formigas, mas não desdenha umas migalhitas apetitosas.
Lisete de Matos Açor, Colmeal, 8 de Maio de 2011.

1 comentário:

António Santos disse...

Excelente iniciativa!
Mais uma!
Um exemplo a seguir e a repetir.
Parabéns à organizadora pelo evento, que através deste trabalho tão simples mas elucidativo, aqui nos é apresentado.