10 novembro 2009

Clube de Contadores de Histórias (IX)

Amor a dobrar
Belinda era uma menina com sorte. Tinha duas avós. À avó da cidade chamava Vó. À do campo chamava Vivó. Belinda vivia na cidade; por isso, via a Vó muitas vezes. Esta tomava conta dela quando a mãe estava ocupada. Belinda e a Vó tinham muitas frases só delas e faziam coisas especiais. — Anda lá, Vó! — Vamos fazer um tingalaio. — Tingalaio! Meu burro pula, meu burro salta, meu burro bate com sua pata — dizia a avó, enquanto levava Belinda às cavalitas. A Vó levava a neta muitas vezes ao parque, e ambas dançavam por entre as árvores, de mão dada. Quando chegavam a casa, Belinda tomava limonada e comia as suas bolachas favoritas, feitas com gengibre. Nas férias, a menina via a Vivó. Toda a família ficava em casa da avó. Como era uma casa pequenina, a mãe e o pai encaixavam-se no quarto de hóspedes, enquanto Belinda dormia numa caminha extra. Belinda e a Vivó tinham muitas frases só delas e faziam coisas especiais. — Põe um pato no sapato! — dizia Belinda. E a Vivó levava a neta a ver os patos e as galinhas. Também faziam piqueniques no campo atrás da casa. A Vivó levava sumo de maçã e as bolachas favoritas de Belinda, as de queijo. Quando acabavam de comer, a menina pedia: — Anda, Vivó! Vamos brincar às rodinhas! Depois de muito andarem à roda, caíam no chão uma em cima da outra. Quando estavam na cidade, a Vivó telefonava todos os domingos e falava sempre com Belinda. Até parecia que estava mesmo ali ao lado. Belinda gostava muito das suas duas avós. Quando nasceu o seu irmãozinho, fizeram uma festa na casa da cidade. Todos vieram à festa, incluindo a Vivó. Foi a primeira vez que Belinda teve as duas avós ao mesmo tempo com ela. Divertiram-se tanto! Mas a Vó não foi a correr buscar limonada para Belinda. E a Vivó não lhe deu sumo de maçã. Ficaram sentadas e quietas… até que Belinda caiu. Bateu com a cabeça e ficou sem respiração. Começou a chorar. A Vó e a Vivó puseram-se ao lado dela, rápidas como um relâmpago. Embalaram-na entre elas, como se fosse uma sanduíche. Belinda teve direito a um beijo da cidade numa face e a um beijo do campo na outra. Segurou as mãos das avós e não queria largá-las. — Vamos! — disse, puxando por elas. — Aonde? — perguntaram as avós. — Para o outro quarto. Vamos divertir-nos! — pediu Belinda. A Vó pôs uma gravação. — Vivó, sabe dançar esta música? A Vivó ensaiou alguns passos e voltas. E dançaram as três, ao som do ritmo. De repente, começou a ouvir-se uma velha canção. A Vó e a Vivó começaram a cantar. Depois, a Vó pôs Belinda às cavalitas da Vivó. — Tingalaio! — exclamou Belinda, e lá foram as três pela casa fora, a trotar e a saltar. Depois, foi a vez da rodinha. Fizeram uma rodinha e acabaram por cair umas em cima das outras, rindo e batendo palmas. — Tem de vir mais vezes visitar-nos — sugeriu a Vó à Vivó. — Tem de vir passar férias connosco — sugeriu a Vivó à Vó. Belinda estava radiante. Quando as duas avós se juntam, diverte-se a dobrar e tem amor a dobrar.
Bernard Ashley Double the Love London, Orchards Books, 2003 Tradução e adaptação
O Clube de Contadores de Histórias Biblioteca da Escola Secundária Daniel Faria - Baltar

Sem comentários: