08 outubro 2009

«Impérios» dos Açores

Arquitectura singular esta dos Impérios açorianos, pequenas construções de certa pompa, compromisso entre capela e palacete miniatural, sempre ou quase sempre de sabor popular, casa da irmandade ou mordomia local das Festas do Divino Espírito Santo. Essa grande devoção veio do século XV com os povoadores, como parte importante que era na vida portuguesa desde o século XIII. A princípio devoção e festividades de carácter marcadamente caritativo conduziam as irmandades a variadas acções assistenciais, das domiciliárias à sustentação de hospitais, e daí ser a nobreza quem naturalmente chamava a si encargos e trabalhos. Também essas irmandades viriam nos Açores a constituir-se base e apoio das Misericórdias. Com o andar dos séculos enfraquecia no Continente tal devoção e nos Açores mais popular se tornava com suas alegres festas de louvor e gratidão ao Espírito Santo, celebradas da Páscoa ao Pentecostes. Momento culminante das festas é a coroação: em tempos idos coroava-se um pobre e agora uma criança – rematam a coroa e o ceptro pombas que simbolizam o Paráclito. Os imperadores são sorteados na segunda-feira de Pentecostes, à porta de um Império e dentro dele são expostos os bodos. Apesar de alterações diversas, a tradição continua a impor muitas das obrigações do preceito antigo – carros de toldo, serviço de doces e vinhos e pães e rosquilhas doces (para visitantes ilustres), cortejos, insígnias, o alferes da bandeira, o pajem da coroa, os vereadores, o dia do bezerro cuja carne será distribuída pelos pobres do lugar, com pães e flores espetadas, tudo disposto à porta do Império este simpático, ingénuo e sempre belo toque de originalidade arquitectural e de festa, onde por vezes se misturam góticos e barrocos sem grande incómodo. Os simpáticos Impérios – também chamados Teatros – erguem-se como altos rés-do-chão de modo a poder ver-se bem a exposição do bodo no domingo e segunda-feira de Pentecostes, e as cerimónias ali realizadas. Vão desaparecendo alguns componentes antigos que davam especial nota de folguedo, de juvenil alegria a este «tempo do Espírito Santo», nomeadamente as folias que se integravam no cortejo da coroação – os três foliões, talvez herança dos medievais bobos das cortes, envoltos em vistosas capas de ramagens e, na ilha de São Miguel, com pomposas mitras nas cabeças, iam tocando rabeca e tambor, o terceiro empunhava uma bandeira, e durante o jantar da função mandavam servir os pratos, cantando a preceito. in “As mais belas cidades de Portugal”, Vol. II, pág. 229 Colecção Património, Editorial Verbo A Colecção Património estará brevemente à sua disposição na Biblioteca da União, no Colmeal. A. Domingos Santos
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Fotos de Sergio Veludo

3 comentários:

Anónimo disse...

Já visitei os Açores.
Fiquei impressionado com as pessoas, com a sua luta pela terra difícil e pela outra luta travada pela sobrevivência que os levou a procurar novos mundos sem a certeza de voltarem.
Admirei as paisagens, a gastronomia e a grande religiosidade do povo destas ilhas madrastas, através dos variadíssimos e bonitos "Impérios" e que eles também levaram para o Brasil e América do Norte.
Felicito-vos por este apontamento.

Veludo disse...

Caro Francisco,
ficaria muito feliz se você colocasse os créditos das fotos dos Imperios.
Abraços,
Sérgio Veludo

Francisco Silva disse...

Caro Sérgio,
as minhas desculpas pelo lapso.
Situação já corrigida.
Obrigado.
Um abraço,
Francisco Silva