13 julho 2009

Clube de Contadores de Histórias (V)

Amor com amor se paga
Ia um Cágado para casa com um saco de milho às costas. A dada altura encontrou um grande tronco de árvore atravessado no caminho. Deitou o saco para o outro lado do tronco e foi dar a volta para pegar de novo no saco. Um Lagarto viu o saco de milho e pensou para consigo: «Um saco de milho! Que sorte!» O Cágado entretanto chegou ali e disse: — O saco é meu. — O saco é teu? Achei-o. É meu — afirmou o Lagarto. Mas o Cágado insistiu: — Fui eu quem o deitou para aí e venho buscá-lo. Dá-mo. O Lagarto não estava pelos ajustes: — Ah, isso é que não dou. Achei-o, é meu. O Cágado acompanhou o Lagarto até casa deste, sempre na esperança que ele lho devolvesse. Mas, por mais que teimasse, não conseguiu. Quando chegou a casa não havia nada para comer. Disse aos filhos: — O Lagarto roubou-me o saco de milho. Vamos ao mato apanhar ratos, se não morremos aqui de fome. Foram caçar ratos e nisto encontraram um rabo de lagarto fora da toca. O Cágado logo reconheceu que era o rabo do Lagarto que lhe havia roubado o saco de milho. — Dai-me cá a faca para eu lhe cortar o rabo — disse o Cágado aos filhos. O Lagarto pediu ao Cágado: — Não me cortes o rabo que eu ainda estou vivo. O Cágado não fez caso. Cortou-lhe o rabo, levou-o para casa e comeu-o com os filhos. O Lagarto foi queixar-se ao Leão: — Leão, venho queixar-me do Cágado. O Cágado cortou-me o rabo e quero que ele mo pague. O Leão mandou chamar o Cágado e perguntou-lhe: — Cágado, é verdade que tu roubaste o rabo ao Lagarto? — Não. O Lagarto emendou: — Cortou, sim senhor. Eu disse-lhe que estava vivo e não fez caso. O Cágado disse: — Eu não roubei o rabo ao Lagarto. Achei o rabo fora da toca, levei-o para casa e comi-o com os meus filhos. Foi apenas isto e nada mais. O Leão pensou e deu a sentença: — Terás que pagar o rabo ao Lagarto. O Cágado, firme na sua, contou como as coisas se haviam passado e concluiu: — Se o Lagarto achou o meu saco de milho, também eu achei o seu rabo. Agora não devemos nada um ao outro. E assim ficou resolvida a contenda.
Manuel Ferreira Quem pode parar o vento? Porto, Edições Asa, 1987
O Clube de Contadores de Histórias Biblioteca da Escola Secundária Daniel Faria - Baltar

Sem comentários: